sábado, 20 de dezembro de 2008
Homenagem particular ao espírito de Natal...
Para o tempo que me olha
E espero ansiosa
Vou comendo a casa
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros"
(Vanessa da Mata)
A música que eu não quero ter que cantar
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Ninho.
Como diz Patrícia Antoniete (nesse texto aqui: http://www.revistaparadoxo.com/materia.php?ido=5890), "Casa são muitas coisas, mas casa é principalmente onde a gente pode ser a gente mesmo e onde não temos medo"...
domingo, 7 de setembro de 2008
Para meu querido chef (há muito eu estava te devendo isso).
Anthony Bourdain… Qualquer coisa sobre ele, ou dele. Pode mandar, que eu degusto feliz, com a certeza de que é coisa boa. É claro, e infelizmente, meu apetite quando se trata dele se resume ao papel, já que nunca pude (quem sabe um dia...) comer algum alimento que ele tivesse preparado de fato, só mesmo suas palavras. Mas, e daí, não é? Não preciso ter comido nada de um chef pra ser fã dele, descabidamente fã dele, apaixonadamente fã dele, cegamente fã dele (sim, eu acho que até comeria ele, o próprio).
A primeira vez que ouvi falar de Tony, “meu amigo”, foi quando, há alguns anos atrás, adquiri dois dos seus muitos livros. Primeiro, um de seus romances, Cozinha confidencial, em que ele oferece uma memória de seus anos como chef, desde as primeiras experiências com comida, na infância, nas viagens que fazia à França com os pais, passando pela formação em gastronomia na juventude, no Culinary Institute of America, recheada de sexo, drogas e rock n´roll (a tríade sempre presente na consolidação da personalidade de alguém que se preze e que vai um dia fazer alguma coisa interessante no mundo, desde que em doses moderadas, claro – não, isso de moderado vale só pras drogas, pensando melhor), as experiências, a maioria frustrada, em diversos restaurantes pelo país, desde os mais ordinários bufês, passando pelas previsíveis cozinhas de hotel, pelas mil espeluncas fadadas ao fracasso, até chegar ao Les Halles, a brasserie em que ele está até hoje – de alma, na verdade, já que não comanda a cozinha presencialmente há uns oito anos – e que ele mesmo considera a melhor do mundo (amo esta certa arrogância despretensiosa que os melhores, e que sabem que são os melhores, têm...), e que serve a clássica culinária francesa, nada de nouvelle cuisine, mas a velha escola: coq au vin, poulet rôti, gratin dauphinois, vichyssoise, boeuf bourguignon, cassoulet, steak su poivre, steak tartare, tournedos rossini, bouillabaisse. Uma semana depois, comprei seu único livro de receitas, Afinal, as receitas do Les Halles: histórias, táticas e técnicas, com as principais entre aquelas que constam ou já constaram no menu do restaurante, algumas já mencionadas acima, além de dicas e orientações recheadas daquilo que Tony tem de melhor: talento, ironia, muita ironia, uma dose generosa de sarcasmo e desprezo pelo mundo e pelos outros (é só fachada, mas que cai bem pra ele), e uma presença de espírito que eu nunca vi igual – uma exemplo clássico é quando ele, mesmo sabendo que está falando pra cozinheiros amadores, destila a pérola: “Não se estranhe, se, às vezes, eu me dirigir a você, leitor, chamando-o de ‘idiota’. Espero sua compreensão e não quero que isso seja levado para o plano pessoal. Saiba que, se você não largar o livro, se estiver disposto a fazer um bom trabalho e tiver um pouco de amor e respeito pela comida, eu depois lhe pagarei uma cerveja no bar”.
Depois, totalmente apaixonada, saí correndo atrás do pouco dele que está disponível no Brasil: Maus Bocados e Em busca do prato perfeito – há muitos outros livros, como No Reservations e A cook´s tour, que são o relato de algumas de suas experiências nas viagens que fez para os seus programas no Travel Channel e que têm o mesmo nome dos dois livros, e os romances sem nenhuma ligação com culinária, como Typhoid Mary: An Urban Historical, Bone in the Throat, Gone Bamboo e Bobby Gold, além dos inúmeros artigos e crônicas para jornais e revistas como New York Times, The New Yorker, Gourmet, The Independent, Financial Times, Town&Country, etc.
Mas, e então, o que me atrai tão desmedidamente em Tony? Bem, sem dúvida, a prosa dele, que já me fez chorar e rir, e não foram poucas as vezes; mas, na verdade, além da forma, o conteúdo: suas histórias de vida, seu amor pela comida, mais do que pela culinária ou gastronomia – e imagino mesmo o desdém na cara dele ao pronunciar estas duas palavrinhas tão “mágicas” hoje em dia mas também tão esnobes –, a cultura absurda que ele possui, sobre música, sobre literatura, sobre cinema, sobre o mundo, a forma como ele vê a vida, a si mesmo, e aos outros... O amor dele pelos outros é mais desmedido do que o meu por ele, e é emocionante ler as palavras que ele dedica àqueles a quem ele admira, e como ele o faz sem pieguices e romantismo tolo – sua mulher, seus amigos chefs, os grandes chefs que não foram seus amigos, os cozinheiros mexicanos, porto-riquenhos, cubanos, o verdureiro, o pescador de ostras, o cara da lava-louças, as chefs mulheres, por quem ele nutre uma paixão especial, as mulheres em geral, José, o dono do Les Halles, as bandas punk nova-iorquinas dos 70 e 80... enfim, pra quem for gente boa e estiver fazendo coisa honesta, Tony será o primeiro a dar o crédito. Além disso tudo, o filho-da-puta ainda consegue, nos seus 52 anos, ser descolado e charmoso pra cacete! E eu me casei muito com ele um dia desses aí, e tivemos uma lua-de-mel incrível, embora ele não tenha sabido disso (foi depois que ele se separou de Nancy, sua primeira mulher, mas já nos separamos também, sabe como é, bebe muito, é meio desmedido pra tudo, é mulherengo, e essa coisa das viagens, esposa nenhuma agüenta muito isso, e aí... mas ele está bem agora, se casou de novo com Octavia e tem até uma filhinha de um ano que adora azeitonas, polenta e vinho tinto!).
Pra quem quiser degustar um pouco do meu chef preferido, há na lista de links da abertura desse blog o endereço para o blog dele, e há milhões de vídeos dos seus programas no youtube. A propósito, a caveira acima é a insígnia que está bordada no jaleco de chef do Tony: cozinhe livre ou morra. Não preciso dizer mais nada...
domingo, 13 de julho de 2008
Mamma mia! - parte 3: Emilia-Romagna
Continuando... Logo acima da Toscana, há a Emilia-Romagna, que é considerada pelos próprios italianos como o ápice culinário de todo o país, sendo de lá pratos tradicionalíssimos como lassagne alla bolognese e tortellini in brodo, vários tipos de ragú, além dos conhecidos parmigiano reggiano, prosciutto di Parma, cotecchino, mortadella e zabaglione. Uma curiosidade da região é o fato dos locais reduzirem o azeite ao máximo e preferirem o uso da manteiga! Abaixo uma receita simples, versátil e tradicional, típica dos trabalhadores pobres, por ser barata e substanciosa, o brodo, uma espécie de caldo, que é servido com vários tipos de massa, de preferência curta (perceberam o "cheirinho" de sopinha leve de mãe?!):
alho-poró em rodelas finas (ou cebola e alho, na falta dele)
300gr de carne de boi moída, como músculo (ou carne de frango)
1 litro de caldo de legumes (ou água, na falta dele)
1 cenoura picada grosseiramente (atenção, o brodo é um caldo leve e que deve ficar quase transparente, então não é o propósito deixar a cenoura cozinhar até amolecer, como em uma sopa cremosa, e por isso é preferível que os pedaços sejam grandes)
outros vegetais (ainda mais no caso do brodo ser "vegetariano"; use por exemplo abobrinha, mas a parte mais durinha, da casca, pra não tornar o caldo cremoso, e também salsão, mas cuidado pra não virar sopa de legumes!)
temperos diversos, como louro, salsinha, etc. (ainda mais no caso de usar água somente), vai depender do seu gosto e inspiração
azeite, sal e pimenta do reino moída
queijo parmesão de boa qualidade (ou melhor: um parmigiano reggiano!)
Doure o alho-poró (ou o alho e a cebola)
Refogue a carne e logo depois os legumes (ou só os legumes se for o caso)
Adicione os temperos, o sal e a pimenta
Coloque o caldo e deixe ferver por uma hora
Caso queira um caldo translúcido, deve-se coá-lo (caso queira muito translúcido mesmo, da maneira tradicional, como na foto, é necessário, além de coar, voltar a ferver e adicionar uma clara de ovo, que ao cozinhar vai agregar em si as impurezas restantes; daí, deve-se retirar cuidadosamente a clara até o caldo ficar transparente)
Caso queira deixar do jeito que está, sugiro então que não use a carne e corte os legumes em julienne, em tiras bem fininhas, para o aspecto ficar bonito
*dica: geralmente o brodo é servido com alguma massa curta e de preferência recheada, como capeletti, que é a forma mais tradicional, e esteja atento para colocar a massa no caldo para que ela cozinhe, una 10 minutos antes de servir
Bom apetite!
.
Mamma mia! - parte 2: Sicília
A região escolhida para hoje é a famosa ilha da Sicília, que na imagem que fiz seria a bola que a bota está chutando (eu sei, é bizarro, mas funciona), e que merece ser visitada pelo seu litoral (apesar da vasta região interiorana). Nela, a influência da cultura dos mouros é marcante, tanto na arquitetura quanto na culinária. Nas osterias são servidos pratos à base de peixes e frutos do mar (a sardinha, um peixinho tão desprezado por nós, é queridíssima na culinária siciliana), e os famosos antipasti, com berinjela, abobrinha, pimentões, tomates, alcachofras, azeitonas, o cuzcuz (pela influência marroquina), muito azeite e aceto basamico, queijo de cabra e ovelha (dos poucos animais a se adaptarem ao clima árido e seco do sul da Itália), como o pecorino e, claro, massas variadas e gnocchi, mas feitos de forma leve e fresca. Abaixo uma das receitas mais clássicas e fáceis da região, a caponata, uma espécie de "ensopado" de vegetais que é servido como antipasto, pois parece muito uma conserva:
1 cebola grande picada
3 a 4 talos de aipo (salsão) picados
1 kg de berinjela cortada em pedaços de 2 a 3 cm
1 colher de alcaparras em conserva, deixadas de molho por 10 minutos e escorridas
20 azeitonas verdes e pretas sem caroço
1 colher de sopa de açúcar
1 colher de sopa de vinhagre de vinho branco
50 gr de massa de extrato de tomate ou molho concentrado
azeite (uma dose generosa, de 6 a 8 colheres de sopa cheias), sal, pimenta do reino e ervas (por exemplo, manjericão e alecrim)
Doure a cebola e o aipo, junte a berinjela (como é muita berinjela, use uma panela grande) e deixe dourar (atenção: a berinjela demora a dourar, pois primeiro ela absorve todo o azeite e só depois começa a soltá-lo e dourar de fato, o que leva mais de 10 minutos)
Adicione as azeitonas, as alcaparras o extrato de tomate, o açúcar, o vinagre, o sal e a pimenta e deixe refogar por 15 minutos
Decorre com as ervas frescas e sirva
Dica: acrescente também um pouco de amêndoas (muito populares na Sicília), ou pinolis e até pistache!
.
sábado, 12 de julho de 2008
Mamma mia! - parte 1: Toscana
250gr de músculo de boi (o ragú pode ser feito com várias carnes, como coelho, cordeiro, pernil de vitela, ossobuco, etc., mas o músculo de boi é fácil de achar, além de baratinho e apetitoso; nunca use filé, que por ser uma carne superior cozinha rápido demais)
150 gr de pancetta (uma espécie de bacon italiano, mas pode usar bacon comum mesmo, ou até presunto cru)
Sirva com massa, de preferência fresca, com polenta ou com nhoque; pra ficar com cara de "domingo de mãe", experimente servir com bucatini, uma massa que parece um tubinho bem fino e longo (um spaghetti com furo), aqui popularmente e injustamente conhecida como "macarrão de cachorro"
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Drinks!
Margarita
Drink inventado em 1942, no México, com o intuito de ser uma forma mais "civilizada" de beber tequila (que deve ser bebida tradicionalmente da seguinte maneira: polvilhe sal no dorso da mão, lamba, chupe o limão e tome de uma vez só um "shot" de tequila)
3 medidas de tequila
2 medidas de suco de limão
1 medida de rum
rodela de limão e sal para decorar a borda da taça
Cuba Libre
"Long drink" muito popular nas décadas de 60 e 70
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 medidas de rum branco
coca-cola até enher o copo
rodela de limão para decorar
Daiquiri
"Daiquiri" é o nome de uma cidade cubana, lar deste drink que foi criado diante da falta de gim no país e da abundância da bebida local, o rum
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 medidas de rum branco
3/4 de medida de suco de limão
1/2 colher de chá de xarope de açúcar
(para fazer este xarope, coloque 4 colheres de sopa de água e 4 colheres de sopa de açúcar refinado em uma panela e aqueça em fogo baixo até o açúcar dissolver; após esfriar, guarde em um recipente fechado por 2 semanas antes do uso)
Mudslide
Drink cremoso, especial para ser bebido em dias frios, cujo nome não é muito sedutor (algo como "lama escorregadia")...
4 a 6 pedras de gelo quebradas
1 medida e 1/2 de Kahlúa
1 medida e 1/2 de Bailey´s
1 medida e 1/2 de vodka
Bishop
Drink feito com uma pitadinha de vinho (não vale usar vinho vagabundo), especial para aqueles restinhos que sempre ficam nas garrafas; o nome é estranho ("bispo"), mas todos sabemos o quanto os clérigos são chegados nas boas coisas da vida...
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 espremidinhas de limão
2 medidas de rum branco
1 colher de sopa de vinho tinto
1 pitada de açúcar refinado
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Ohhh, yes, fuck me baby...
domingo, 6 de julho de 2008
Julie, Julia e eu
Anteontem, enquanto fazia uma das coisas de que mais gosto, passear pelas estantes de livros de culinária em uma boa livraria, me deparei com algo que, magicamente, se casa de forma brilhante com várias coisas que estão passando pela minha vida agora...
Mas, tenho que confessar, foi um daqueles encontros em que, com uma ponta de inveja inofensiva, pensamos: "droga, como isso não me ocorreu antes?!" Estou falando do lindo livro Julie & Julia - 365 Dias, 524 Receitas e 1 Cozinha Apertada, escrito por Julie Powell. O truque todo é o "desafio" proposto por Julie, uma fracasada aspirante a atriz, com um casamento estagnado, saldo negativo no banco e uma cotidiano maçante como secretária freelancer (não, não são estes os motivos pelos quais o livro se casa com meu atual momento, ainda bem), que resolve se dedicar a uma empreitada curiosa: reproduzir em casa, em um ano, as receitas de um dos mais famosos livros de culinária americanos, Mastering the Art of French Cooking, de Julia Child. A senhora Child, já falecida, foi talvez a melhor amiga das housewifes daquele país, nas décadas de 40, 50, 60, tempo em que as amélias de outrora se dedicavam exclusivamente ao forno, ao fogão, aos filhos e ao marido (elas não eram amélias "emancipadas" como nós hoje em dia, que além disso ainda se dedicam ao trabalho, às contas, aos amigos, ao stress do cotidiano, às exigências e demandas dos outros, às próprias exigências, às aspirações e ambições frustradas, e que por isso tudo morrem de inveja daquelas amélias do passado - como diziam os Ramones: às vezes, "ignorance is bliss"...). Julia tornou-se um mito por ter introduzido nos lares americanos as técnicas da culinária francesa, em receitas clássicas e até certo ponto fáceis, mas extremanente sofisticadas e sedutoras. Foi uma espécie de Ofélia daquelas bandas, uma senhora que transmitia carinho, comforto, paz, sempre preocupada em explicar da melhor maneira o passo-a-passo dos preparos de uma forma que não desesperasse as espectadoras, que não as levasse ao fundo do poço por se acharem umas tontas sem cultura gastronômica e sem o mínimo traquejo para manejar utensílios básicos (como eu me sinto na maioria das vezes). Abaixo estão as duas moças, a "desafiante" e o "mito", Julie e Julia, e aqui (http://diversao.uol.com.br/ultnot/2007/12/11/ult4326u525.jhtm) está uma excelente resenha de Julie & Julia feita pelo site Uol.
Como adquiri o livro anteontem, ainda estou na página 51, mas já fui levada às lágrimas, já dei gargalhadas sozinha, já pensei e repensei tudo que fiz da vida até aqui (sim, livros de culinária, principalmente romances culinários, têm essa capacidade sobre mim...). Na medida em que a leitura for avançando, vou postando as partes que me chamaram atenção.
sábado, 5 de julho de 2008
As flores de plástico não morrem, mas não têm a mínima graça...
Este post deu esta volta toda apenas pra falar do que aprendi hoje de novo, graças ao blog Rainhas do Lar: o nome da plantinha da foto acima, Kalanchoe (flor da fortuna), que é uma das minhas paixões, pois são baratinhas (por volta de 1 real), duram muito (a última que comprei está no banheiro desde o mês passado), por serem da família das suculentas são fáceis de cuidar (sobrevivem sem rega por até 3, 4 dias), são encontradas nas mais variadas cores, e são lindas, charmosas e delicadas! Toda semana, ou no mínimo sempre que vou ao mercado, trago pra casa flores pra colorir e alegrar o dia-a-dia, e as florzinhas da fortuna têm sido minhas companheiras mais freqüentes! Uma homenagem a elas então:
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Food porn e comfort food em um texto como deve ser: substancioso e preparado lentamente e com amor...
Nos Estados Unidos, os pratos clássicos da "comfort food" são aqueles da culinária sulista, dos negros, das grandes famílias, de Nova Orleans e Luisiana, a culinária cajun, a verdadeira culinária americana, (por favor, não pensem em "junk food"!): broa de milho, jambalaya, gumbo. Não é à toa que essa culinária é chamada de "soul food", ou "comida da alma"!
Na Europa, há a culinária italiana e os pratos do norte e da Toscana (região cuja principal cidade é Florença), locais em que a vida no campo ainda é regra: pratos ricos, densos e substanciosos (diferentes da culinária do sul, das ilhas, por exemplo a Sicília, com pratos mais leves, com peixes, frutos do mar e vegetais frescos), com muita carne e embutidos para os diferentes tipos de ragú, sopas, massas feitas em casa, de todos os jeitos e formatos, gnocchi, risotto, muito azeite, queijos, principalmente de cabra, e tomate cozido lentamente; e as sobremesas, como o tiramisu e a panna cotta (minha sempre favorita!)... Os italianos do norte são tão apaixonados por suas raízes e por suas receitas tradicionais que se recusam a passar os segredos adiante, e se o fazem estabelecem uma série de exigências ao "candidato". E há também a culinária francesa clássica, anterior à "nouvelle cuisine", e os tradicionais molhos, à base de manteiga e do suco das carnes por exemplo, sopas (como a clássica bouillabaisse, sopa de peixe), o uso do pato (magret) e do ganso (e do seu fígado, o foie gras), os pratos "confit" (confit de pato, confit de ganso: carnes cozidas lentamente na sua própria gordura), os cozidos (como boeuf bourguignon e pot au feu), os souflês, a deliciosa tarte tatin...
No Brasil, pensem nos pratos que, independente da região, eram feitos pelas famílias para sustentar seus membros durante a labuta, ou mesmo os pratos festivos, contanto que todos eles contenham ingredientes regionais e passem longe de técnicas rebuscadas (aqui em Minas, há a comida da "roça": os pratos com feijão, as carnes molhadas - frango com quiabo e ao molho pardo - , os doces e queijos tradicionais, a comida da "quitanda", quer dizer, bolos, biscoitos e pães).
terça-feira, 1 de julho de 2008
Fidelidade
Cada uma delas apontando para um ideal de relacionamento e amor bastante distintos, mas cada uma delas contendo a sua própria verdade.
Tenho lutado muito para achar uma maneira de conciliar as duas, mas me pergunto se isso é possível...
"A mulher precisa de um motivo para trair; o homem precisa de um motivo para não trair"
"Fidelidade tem mais a ver com sinceridade do que com a posse mútua incondicional..."
(ps: a fonte dessas frases não importa...)
.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Tributo a Lou Andreas-Salomé
(Lou Andreas-Salome)
Sem nenhum motivo especial (se bem que somente a vida dela já é motivo suficiente para um tributo), quero fazer uma homenagem a uma das mulheres mais brilhantes que a humanidade já conheceu: a pensadora e escritora Lou Andreas-Salomé, nascida em 1861 e falecida em 1937, dotada de atributos físicos e intelectuais que a tornaram membro de um círculo de pensadores seleto do século passado (e amante de alguns deles também), como o pai da psicanálise Sigmund Freud, o filósofo Nietzsche, o poeta Rainer Maria Rilke, entre outros. Nietzsche dizia ser ela a mulher mais brilhante que ele havia conhecido, e por isso mesmo deve ter se disposto a aceitar o triângulo amoroso estabelecido entre ele, Lou e o filósofo Paul Rée (com quem ela vivia antes, durante e depois de conhecer e se relacionar com Nietzsche, e que parece ter se suicidado em virtude da ruptura de seu relacionamento amoroso com Lou).
Lou tinha idéias curiosas sobre amor e casamento, questionava (e mesmo repudiava) a ligação entre afeto e sexo, e se recusava terminantemente a aceitar o modelo de família tradicional, chegando mesmo a exigir de Andreas, seu segundo marido, a promessa de que nunca teriam filhos. Foi cortejada por inúmeros homens, tendo se unido a alguns deles por períodos de sua vida, mas isso nem de longe significava que ela aceitava as convenções e regras estabelecidas pelo seu círculo social, a alta burguesia européia, tendo se mantido até o fim da vida um espírito livre e independente, uma mulher exuberante e desafiadora. Uma de suas afirmações mais contundentes sobre o amor está em sua obra Reflexões sobre o problema do amor: "Só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o passar do tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser entendido como uma força vital. Por isso nada é mais inepto em amor que se adaptar um ao outro, se polir um contra o outro, e todo esse sistema de intermináveis concessões mútuas, feitas unicamente para os seres constrangidos, por razões puramente práticas e impessoais, a suportar sua vida em comum, atenuando o mais racionalmente possível este constrangimento. E quanto mais dois seres chegaram ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, se transformar um no parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em seu solo particular, a fim de se tornar um mundo para o outro."
Apesar de ter se cercado sempre da companhia de homens (que faziam as vezes de seus amantes, mentores intelectuais, parceiros nos debates acadêmicos, etc.), Lou mateve uma relação próxima com a também escritora Anais Nïn. Em prefácio a uma edição da mais importante obra de Lou, A humanidade da mulher, ao tentar elaborar uma biografia da amiga (tarefa árdua em virtude de sua vida agitada e misteriosa), afirmou: "O conflito entre o desejo da mulher de se fundir com o amado e ao mesmo tempo manter sua identidade própria é a luta da mulher moderna. Lou viveu todas as fases e evoluções do amor, da entrega à recusa, da expansão à contração. Casou-se e levou vida de solteira, amou homens tanto mais velhos quanto mais novos." A própria Lou gostava de dizer: “Não posso ser fiel aos outro, apenas a mim mesma".
Ao fim da vida, em conversa com o escritor H. F. Peters, Lou proferiu a síntese de sua caminhada: “A vida humana – na verdade, toda a vida – é poesia. Nós a vivemos inconscientemente, dia a dia, fragmento a fragmento, mas, na sua totalidade inviolável, ela nos vive”.
Alguns depoimentos sobre Lou:
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Sobre Internacionalismo
Reflexões interessantes do escritor americano Mark Twain, que viveu entre os séculos XIX e XX (retiradas de um texto que li numa revista destas de circulação semanal bem antiga, que não terá seu nome referido aqui, por razões óbvias): “Cidadania? Não temos cidadania! Em lugar dela, ensinamos o patriotismo, de que Samuel Johnson dizia, já há 140 ou 150 anos atrás, ser o último refúgio do canalha – e eu sei que ele estava certo. Lembro-me de quando era menino ouvi repetida muitas e muitas vezes a frase ‘Minha pátria, certa ou errada, minha pátria’. Uma idéia absolutamente absurda”.
Perspicaz este escritor. Dele, só sabia que havia feito As aventuras de Tom Sayer, que nunca li. Primeiro, acho que, mais do que uma leitura anti-imperialista do trecho (a postura americana era o alvo da crítica de Twain), devemos ver nele também uma revolta contra todo e qualquer nacionalismo (seja o país em questão os EUA, seja Inglaterra, China, França, Brasil, ou qualquer outro pedaço de terra com uma cerca imaginária e que se intitule nação). O surgimento do “espírito” nacionalista remonta ao final do feudalismo, quando, frente ao surgimento e desenvolvimento do comércio entre os feudos, e devido à insegurança nas estradas que ligavam um feudo ao outro, às abusivas taxas e pedágios e à variedade de moedas locais (o que obviamente dificultava a troca de mercadorias), a nascente burguesia rompe com a frágil estrutura social até então dominante, baseada na autoridade imposta pela Igreja Católica e pelos senhores feudais (ai meu segundo grau!), e junta suas forças com a monarquia em ascensão, pleiteando uma moeda única, uma lei única, um governo único, etc., em lugar da “fragmentação” da sociedade feudal. A unificação, sob a alcunha de “nação”, era o que se desejava à época. Como se vê, então, esta baboseira toda de render tributos (e dar a própria vida, às vezes) à pátria, a despeito do papel ocupado pela mesma (se certa ou não, como diz o trecho mencionado por Twain), e mesmo quando esta pátria, em nome do “desenvolvimento”, massacra, explora e humilha os seus semelhantes – quer dizer, os homens não só de outros pontos do globo mas também aqueles que vivem no mesmo espaço físico, dentro da mesma “cerca” –, possui fundamentos não só morais, políticos, ideais, etc., mas, principalmente, econômicos, concretos. Hoje, vemos este “sentimento” imperar absoluto (o trocadilho não é à toa) não só nos países desenvolvidos (o que dizer da França, berço das pretensas “fraternidade”, “justiça” e “igualdade”... bem, isto tudo para poucos, ou seja, para a burguesia, que queria mandar às favas o rei do qual tinha se servido uma vez) mas mesmo nos rincões mais escondidos do planeta (como, sei lá, Burundi, Líbia, Sudão, etc.). “Nós” contra “eles”, ou “nós” com “eles”, dependendo dos interesses que guiam as relações internacionais, interesses estes que, é até estúpido e banal dizer, são sobretudo econômicos: nos juntamos, nos aliamos, ou nos separamos e declaramos guerra aos outros em nome do desenvolvimento do próprio capitalismo, e não em nome do desenvolvimento da humanidade... A mola propulsora aqui, parafraseando Marx (nunca é demais), é a auto-reprodução do capital, e não o desenvolvimento livre da humanidade; o objetivo por trás disso tudo é suprir as necessidades do capital, e não as necessidades humanas. Como também disse Twain, “Fomos até lá [ele se referia à expansão territorial americana, invadindo Cuba, Filipinas, Porto Rico, etc., mas aqui podemos pensar, de novo, não só os EUA conquistando tudo, mas qualquer país querendo se impor frente ao outro] para conquistar, não para salvar”.
Internacionalismo, então, este é o caminho e o objetivo. Supressão de todas as barreiras que nos separam, sejam elas geográficas, políticas, econômicas, morais. Um só povo, mas com toda a pluralidade cultural possível e saudável (e caberia aqui uma longa digressão sobre relativismo e universalismo, que não vem ao caso agora), com toda a real riqueza que o Homem é capaz de produzir, “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”, como dizia Marx, não importa a cor, raça, gênero ou orientação sexual (obviamente não vou colocar aqui “credo”, pois comunismo e internacionalismo sem supressão da religião, sinto muito Leonardo Boff e a pseudo-esquerda, é um contra-senso).
Pra terminar, e aliviar o peso do tema, uma gracinha: o mundo é mesmo uma bunda... E, reparem bem a foto: o c* do mundo é a África (renegada, isolada, usada)...
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Eu já...
Seguindo a idéia dos blogs Em que posso lhe servir?, Menina de Lord Kronus (vejam ao lado nas listas de links), e outros mais, vai aí a minha própria lista...
Resta saber, do que vou escrever, o que é verdade, o que é fantasia, o que é realidade, o que é só vontade...
Eu já...
... tive dois (três, quatro) namorados ao mesmo tempo...
... tive dois (três, quatro) amantes ao mesmo tempo...
... chorei após gozar (de felicidade)...
... chorei após gozar (de tristeza)...
... me achei frígida e/ou assexuada...
... senti culpa por pensar em sexo...
... e por fazer sexo...
... tive um amante mais novo e manipulável...
... me arrependi por isso...
... namorei um cara 20 anos mais velho (isso quando eu mal tinha saído da adolescência)...
... e fui manipulada (e apaixonada) por ele...
... mas não me arrependo disso...
... transei com uma amiga por curiosidade (e gostei)...
... me masturbei no banheiro do trabalho...
... e no banheiro da faculdade...
... e no banheiro do cinema...
... e no cinema...
... e com alguém ao lado, dormindo...
... quis matar minha mãe (e meu pai, e Freud)...
... menti pro analista (como se ele quisesse a verdade!)...
... me apaixonei pelo analista (como se essa paixão fosse de verdade!)...
... saí sem calcinha mas voltei pra casa, por puro nervoso (e nojo)...
... saí de casa sem anágua, e voltei pra casa, por puro costume...
... transei sem ter vontade...
... transei só por vontade...
... tive caso com homem comprometido...
... dividi um paquera com um amigo...
... menti e enganei pra transar com alguém...
... menti e enganei alguém com quem queria transar...
... apanhei na "hora h" e gostei (muito)...
... apanhei fora de hora, e, claro, não gostei (mas perdoei)...
... nunca participei de um ménagè...
... mas penso nisso de vez em quando...
... nunca fui a uma casa de swing, nem pra olhar...
... mas penso nisso, e não só de vez em quando...
... gozei sonhando, inúmeras vezes...
... fingi que estava gozando...
... desconfiei de quem diz gozar só com penetração...
... fingi que gozava só com penetração...
... mas nunca fingi que gozava por trás...
... senti sinceramente que prefiro atrás, inclusive...
... transei mais de dez vezes em menos de oito horas...
... me apaixonei platonicamente, incontáveis vezes...
... por amigos e por inimigos...
... e por astros da tv (e isso há pouco tempo)...
... traí quem merecia...
... traí quem menos merecia...
... e depois abandonei um casamento, por amor (a outro)...
... e fui perdoada...
.
domingo, 15 de junho de 2008
Ser Amélia
Execrada pelas feministas como modelo de mulher submissa, passiva, escravizada pelo seu homem, Amélia não teve ainda uma verdadeira defesa... Alguém em sã consciência, sabendo ser Mário Lago o autor da letra, e sabendo ser ele quem é, acredita que ele teria a audácia e a insensibilidade de menosprezar, diminuir, ridicularizar a mulher?! Imagino que os/as detratores da música sequer se deram ao trabalho de lê-la por inteiro... A letra na verdade começa como uma crítica às mulheres que exigem atenção, demandam, controlam, se resumem a bonecas cheias de necessidades supérfluas e consumistas. Diante disso, os autores, saudosistas, relembram a tal Amélia, que era mulher de verdade, companheira e pronta para enfrentar as adversidades, por pior que fossem. Ao final, dizem que Amélia não tinha vaidade, mas em um mundo em que "vaidade" não significa exaltação da própria beleza e formosura, mas adequação obcecada a um padrão de "beleza", eu mesma não quero ser "vaidosa"...
Rendendo uma homenagem às Amélias da vida, que sabem ser mulher, sabem quem são e não necessitam das validações sociais estúpidas de hoje em dia (isto é, a mídia, ou mesmo o "senso comum", que impõem a nós um papel que supostamente deveríamos representar, daquilo que deveríamos ser), aí está a letra, completa. Leiam, sem preconceito, e façam as próprias leituras!
A propósito, a legenda da foto de abertura diz: "Foda-se essa merda de dona-de-casa dos anos 50"; sim, escolhi de caso pensado: também tenho minha "veia" feminista e quero que todas as idéias castradoras e machistas sobre o que é ser mulher, principalmente essas idéias que remontam aos anos 50 e 60, se explodam.
Ai, que saudades da Amélia...
(Ataulfo Alves e Mário Lago)
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Mas quando me via contrariado
Dizia: meu filho, o que se há
de fazer ?
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Entre o amor e a perversidade
Dias desses estava lendo umas dessas revistas semanais pela internet, uma edição de 2006, sobre “violência doméstica”. Fiquei pensando sobre o que chamam de “violência moral” (que se manifesta sob a forma de dominação psicológica e mesmo gestos “leves” de intimidação através de abuso físico), uma forma tão destrutiva quanto a violência propriamente física, mas que passa desapercebida por não deixar marcas aparentes, no corpo. A alma, essa sim, vai ficando vagarosamente danificada, ressecada. Nessa revista havia um texto com “sintomas”, “sinais” de que alguém é um violento em potencial, e propunha maneiras de identificar comportamentos do que era classificado como “perversão”, principalmente em se tratando de relacionamentos amorosos. Reproduzi abaixo alguns dos comportamentos identificados pela revista, especificamente aqueles que dizem ou já disseram respeito à minha vida, e que são tão “discretos” e “cotidianos” que muitas vezes não percebemos neles toda a intensidade que realmente têm.
1) Durante a fase de início da relação:
* Apresenta-se como injustiçado, uma pessoa que sofreu por falta de amor, de apoio, e teve que construir tudo sozinho; na maioria das vezes isso é verdade, embora ele esteja estimulando seu instinto maternal.
2) Após o início da relação, na fase inicial de perversidade:
* Fica aborrecido com freqüência e você se vê desfazendo mal-entendidos.
* Não admite recusas, sua vontade tem que ser satisfeita a qualquer custo.
* Chama por você e exige que você pare o que está fazendo para atendê-lo.
* Tem humor instável, e deixa você aflita por nunca saber o que vai detonar uma crise.
* Suas mentiras começam a aparecer. Mente tanto que se esquece do que falou e, quando você o questiona sobre a veracidade do que está falando, age como se você fosse uma criminosa.
3) Com a perversidade já instalada:
* Agride-a verbalmente, faz ameaças para magoar, embaraçar ou restringir sua liberdade; e, quando discutem, baixa o nível.
* Faz inúmeras perguntas encadeadas apenas para intimidar, sem o objetivo real de saber as respostas.
* Quebra coisas, dá socos na parede, e usa violência simbólica, como rasgar fotos ou destruir seus objetos pessoais.
* Minimiza os acessos de raiva, como se cada um fosse uma exceção.
* Faz você acreditar que não é violento, e que você é a responsável pelas perdas de controle dele.
* Culpa os outros pelos próprios ataques. É você que o leva à loucura.
* É capaz de se mostrar frágil fisicamente, mas apenas você conhece sua verdadeira força.
(Fonte:Assédio moral: entre o amor e a perversidade, de Leila Sodero Rezende e Vânia Crespo)