sábado, 20 de dezembro de 2008

Homenagem particular ao espírito de Natal...

"Quando paro que olho as horas
Para o tempo que me olha
E espero ansiosa
Vou comendo a casa
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros"
(Vanessa da Mata)









A música que eu não quero ter que cantar


Boa sorte
(Vanessa da Mata)

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte

Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

(Imagem: "Nunca verás mi rosto", de Cristina Lucas)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ninho.

Com algumas fotos inspiradoras retiradas do blog De(coeur)ação - vejam na lista de links à esquerda - montei minha casa perfeita.
Como diz Patrícia Antoniete (nesse texto aqui: http://www.revistaparadoxo.com/materia.php?ido=5890), "Casa são muitas coisas, mas casa é principalmente onde a gente pode ser a gente mesmo e onde não temos medo"...













domingo, 7 de setembro de 2008

Para meu querido chef (há muito eu estava te devendo isso).

Anthony Bourdain… Qualquer coisa sobre ele, ou dele. Pode mandar, que eu degusto feliz, com a certeza de que é coisa boa. É claro, e infelizmente, meu apetite quando se trata dele se resume ao papel, já que nunca pude (quem sabe um dia...) comer algum alimento que ele tivesse preparado de fato, só mesmo suas palavras. Mas, e daí, não é? Não preciso ter comido nada de um chef pra ser fã dele, descabidamente fã dele, apaixonadamente fã dele, cegamente fã dele (sim, eu acho que até comeria ele, o próprio).

A primeira vez que ouvi falar de Tony, “meu amigo”, foi quando, há alguns anos atrás, adquiri dois dos seus muitos livros. Primeiro, um de seus romances, Cozinha confidencial, em que ele oferece uma memória de seus anos como chef, desde as primeiras experiências com comida, na infância, nas viagens que fazia à França com os pais, passando pela formação em gastronomia na juventude, no Culinary Institute of America, recheada de sexo, drogas e rock n´roll (a tríade sempre presente na consolidação da personalidade de alguém que se preze e que vai um dia fazer alguma coisa interessante no mundo, desde que em doses moderadas, claro – não, isso de moderado vale só pras drogas, pensando melhor), as experiências, a maioria frustrada, em diversos restaurantes pelo país, desde os mais ordinários bufês, passando pelas previsíveis cozinhas de hotel, pelas mil espeluncas fadadas ao fracasso, até chegar ao Les Halles, a brasserie em que ele está até hoje – de alma, na verdade, já que não comanda a cozinha presencialmente há uns oito anos – e que ele mesmo considera a melhor do mundo (amo esta certa arrogância despretensiosa que os melhores, e que sabem que são os melhores, têm...), e que serve a clássica culinária francesa, nada de nouvelle cuisine, mas a velha escola: coq au vin, poulet rôti, gratin dauphinois, vichyssoise, boeuf bourguignon, cassoulet, steak su poivre, steak tartare, tournedos rossini, bouillabaisse. Uma semana depois, comprei seu único livro de receitas, Afinal, as receitas do Les Halles: histórias, táticas e técnicas, com as principais entre aquelas que constam ou já constaram no menu do restaurante, algumas já mencionadas acima, além de dicas e orientações recheadas daquilo que Tony tem de melhor: talento, ironia, muita ironia, uma dose generosa de sarcasmo e desprezo pelo mundo e pelos outros (é só fachada, mas que cai bem pra ele), e uma presença de espírito que eu nunca vi igual – uma exemplo clássico é quando ele, mesmo sabendo que está falando pra cozinheiros amadores, destila a pérola: “Não se estranhe, se, às vezes, eu me dirigir a você, leitor, chamando-o de ‘idiota’. Espero sua compreensão e não quero que isso seja levado para o plano pessoal. Saiba que, se você não largar o livro, se estiver disposto a fazer um bom trabalho e tiver um pouco de amor e respeito pela comida, eu depois lhe pagarei uma cerveja no bar”.

Depois, totalmente apaixonada, saí correndo atrás do pouco dele que está disponível no Brasil: Maus Bocados e Em busca do prato perfeito – há muitos outros livros, como No Reservations e A cook´s tour, que são o relato de algumas de suas experiências nas viagens que fez para os seus programas no Travel Channel e que têm o mesmo nome dos dois livros, e os romances sem nenhuma ligação com culinária, como Typhoid Mary: An Urban Historical, Bone in the Throat, Gone Bamboo e Bobby Gold, além dos inúmeros artigos e crônicas para jornais e revistas como New York Times, The New Yorker, Gourmet, The Independent, Financial Times, Town&Country, etc.


Mas, e então, o que me atrai tão desmedidamente em Tony? Bem, sem dúvida, a prosa dele, que já me fez chorar e rir, e não foram poucas as vezes; mas, na verdade, além da forma, o conteúdo: suas histórias de vida, seu amor pela comida, mais do que pela culinária ou gastronomia – e imagino mesmo o desdém na cara dele ao pronunciar estas duas palavrinhas tão “mágicas” hoje em dia mas também tão esnobes –, a cultura absurda que ele possui, sobre música, sobre literatura, sobre cinema, sobre o mundo, a forma como ele vê a vida, a si mesmo, e aos outros... O amor dele pelos outros é mais desmedido do que o meu por ele, e é emocionante ler as palavras que ele dedica àqueles a quem ele admira, e como ele o faz sem pieguices e romantismo tolo – sua mulher, seus amigos chefs, os grandes chefs que não foram seus amigos, os cozinheiros mexicanos, porto-riquenhos, cubanos, o verdureiro, o pescador de ostras, o cara da lava-louças, as chefs mulheres, por quem ele nutre uma paixão especial, as mulheres em geral, José, o dono do Les Halles, as bandas punk nova-iorquinas dos 70 e 80... enfim, pra quem for gente boa e estiver fazendo coisa honesta, Tony será o primeiro a dar o crédito. Além disso tudo, o filho-da-puta ainda consegue, nos seus 52 anos, ser descolado e charmoso pra cacete! E eu me casei muito com ele um dia desses aí, e tivemos uma lua-de-mel incrível, embora ele não tenha sabido disso (foi depois que ele se separou de Nancy, sua primeira mulher, mas já nos separamos também, sabe como é, bebe muito, é meio desmedido pra tudo, é mulherengo, e essa coisa das viagens, esposa nenhuma agüenta muito isso, e aí... mas ele está bem agora, se casou de novo com Octavia e tem até uma filhinha de um ano que adora azeitonas, polenta e vinho tinto!).

Pra quem quiser degustar um pouco do meu chef preferido, há na lista de links da abertura desse blog o endereço para o blog dele, e há milhões de vídeos dos seus programas no youtube. A propósito, a caveira acima é a insígnia que está bordada no jaleco de chef do Tony: cozinhe livre ou morra. Não preciso dizer mais nada...

domingo, 13 de julho de 2008

Mamma mia! - parte 3: Emilia-Romagna


Continuando... Logo acima da Toscana, há a Emilia-Romagna, que é considerada pelos próprios italianos como o ápice culinário de todo o país, sendo de lá pratos tradicionalíssimos como lassagne alla bolognese e tortellini in brodo, vários tipos de ragú, além dos conhecidos parmigiano reggiano, prosciutto di Parma, cotecchino, mortadella e zabaglione. Uma curiosidade da região é o fato dos locais reduzirem o azeite ao máximo e preferirem o uso da manteiga! Abaixo uma receita simples, versátil e tradicional, típica dos trabalhadores pobres, por ser barata e substanciosa, o brodo, uma espécie de caldo, que é servido com vários tipos de massa, de preferência curta (perceberam o "cheirinho" de sopinha leve de mãe?!):

alho-poró em rodelas finas (ou cebola e alho, na falta dele)
300gr de carne de boi moída, como músculo (ou carne de frango)
1 litro de caldo de legumes (ou água, na falta dele)
1 cenoura picada grosseiramente (atenção, o brodo é um caldo leve e que deve ficar quase transparente, então não é o propósito deixar a cenoura cozinhar até amolecer, como em uma sopa cremosa, e por isso é preferível que os pedaços sejam grandes)
outros vegetais (ainda mais no caso do brodo ser "vegetariano"; use por exemplo abobrinha, mas a parte mais durinha, da casca, pra não tornar o caldo cremoso, e também salsão, mas cuidado pra não virar sopa de legumes!)
temperos diversos, como louro, salsinha, etc. (ainda mais no caso de usar água somente), vai depender do seu gosto e inspiração
azeite, sal e pimenta do reino moída
queijo parmesão de boa qualidade (ou melhor: um parmigiano reggiano!)

Doure o alho-poró (ou o alho e a cebola)
Refogue a carne e logo depois os legumes (ou só os legumes se for o caso)
Adicione os temperos, o sal e a pimenta
Coloque o caldo e deixe ferver por uma hora
Caso queira um caldo translúcido, deve-se coá-lo (caso queira muito translúcido mesmo, da maneira tradicional, como na foto, é necessário, além de coar, voltar a ferver e adicionar uma clara de ovo, que ao cozinhar vai agregar em si as impurezas restantes; daí, deve-se retirar cuidadosamente a clara até o caldo ficar transparente)
Caso queira deixar do jeito que está, sugiro então que não use a carne e corte os legumes em julienne, em tiras bem fininhas, para o aspecto ficar bonito
*dica: geralmente o brodo é servido com alguma massa curta e de preferência recheada, como capeletti, que é a forma mais tradicional, e esteja atento para colocar a massa no caldo para que ela cozinhe, una 10 minutos antes de servir

Bom apetite!
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Mamma mia! - parte 2: Sicília

Antes de mais nada: este post é continuação da parte 1, sobre a Toscana.
A região escolhida para hoje é a famosa ilha da Sicília, que na imagem que fiz seria a bola que a bota está chutando (eu sei, é bizarro, mas funciona), e que merece ser visitada pelo seu litoral (apesar da vasta região interiorana). Nela, a influência da cultura dos mouros é marcante, tanto na arquitetura quanto na culinária. Nas osterias são servidos pratos à base de peixes e frutos do mar (a sardinha, um peixinho tão desprezado por nós, é queridíssima na culinária siciliana), e os famosos antipasti, com berinjela, abobrinha, pimentões, tomates, alcachofras, azeitonas, o cuzcuz (pela influência marroquina), muito azeite e aceto basamico, queijo de cabra e ovelha (dos poucos animais a se adaptarem ao clima árido e seco do sul da Itália), como o pecorino e, claro, massas variadas e gnocchi, mas feitos de forma leve e fresca. Abaixo uma das receitas mais clássicas e fáceis da região, a caponata, uma espécie de "ensopado" de vegetais que é servido como antipasto, pois parece muito uma conserva:

1 cebola grande picada
3 a 4 talos de aipo (salsão) picados
1 kg de berinjela cortada em pedaços de 2 a 3 cm
1 colher de alcaparras em conserva, deixadas de molho por 10 minutos e escorridas
20 azeitonas verdes e pretas sem caroço
1 colher de sopa de açúcar
1 colher de sopa de vinhagre de vinho branco

50 gr de massa de extrato de tomate ou molho concentrado
azeite (uma dose generosa, de 6 a 8 colheres de sopa cheias), sal, pimenta do reino e ervas (por exemplo, manjericão e alecrim)

Doure a cebola e o aipo, junte a berinjela (como é muita berinjela, use uma panela grande) e deixe dourar (atenção: a berinjela demora a dourar, pois primeiro ela absorve todo o azeite e só depois começa a soltá-lo e dourar de fato, o que leva mais de 10 minutos)
Adicione as azeitonas, as alcaparras o extrato de tomate, o açúcar, o vinagre, o sal e a pimenta e deixe refogar por 15 minutos
Decorre com as ervas frescas e sirva
Dica: acrescente também um pouco de amêndoas (muito populares na Sicília), ou pinolis e até pistache!
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sábado, 12 de julho de 2008

Mamma mia! - parte 1: Toscana


Quase como um exercício de estudo, vou reproduzir aqui o que estou aprendendo em um dos links do site oficial do chef Mario Batali (um americano de origem italiana, famoso pelo resgate das tradições de seu país de origem, ganhador de vários prêmios, apresentador de programas de tv e dono de nada mais nada menos que 14 restaurantes, entre eles o Babbo; quem quiser saber mais sobre Mario e seu estilo único pode ler o maravilhoso livro Calor, de Bill Buford), em que ele oferece um completo mapa das regiões da Itália com informações da cultura e culinária de cada uma delas, e no lindo livro Larrousse da Cozinha Italiana, que tem inúmeras receitas de pratos clássicos da culinária deste país. Acima, uma foto de Mario, que é uma figura, e da capa do Larousse.

Vou começar pela minha região preferida, a Toscana, situada no noroeste da Itália (pensando no país como uma "bota" de cano longo chutando uma bola, a Toscana ficaria entre a parte da frente do tornozelo e a boca da bota), local conhecido não só pela famosa Florença, mas também pela vida rural, pelas fazendas e vinícolas tradicionais. A culinária desta região é muito simples, marcada pelos hábitos e necessidades dos trabalhadores rurais e pela tradição dos açougueiros e produtores de embutidos. Nas trattorias e nas casas das famílias são servidos pappardelle e pici (um tipo local de spaghetti curto) com ragús variados, especialmente o de coelho e porco, as zuppa (sopas), por exemplo as de cavolo nero (um tipo de repolho que mais parece uma couve crespa), muita polenta, além de salami e outros embutidos feitos localmente.

Abaixo uma receita clássica de ragú, chamada por mim de Ragú à minha moda, muito presente no cardápio daqui de casa; atenção para a dica: o ragú é um molho que deve ficar "cremoso", encorpado e rico, e que se caracteriza pelo cozimento lento.

250gr de músculo de boi (o ragú pode ser feito com várias carnes, como coelho, cordeiro, pernil de vitela, ossobuco, etc., mas o músculo de boi é fácil de achar, além de baratinho e apetitoso; nunca use filé, que por ser uma carne superior cozinha rápido demais)
150 gr de pancetta (uma espécie de bacon italiano, mas pode usar bacon comum mesmo, ou até presunto cru)
1 cenoura grande cortada em cubos
1 cebola grande cortada em cubinhos
5 a 6 tomates grandes fatiados, sem pele e sem sementes
250 ml de caldo de legumes (seria ótimo se fosse caldo de legumes preparado em casa, mas na falta dele apele para água apenas, e seja generoso nos temperos pra compensar)
200 ml de vinho tinto (de boa qualidade, o mesmo que será bebido com a comida)
azeite, sal e pimenta do reino moída na hora
ervas e temperos a gosto (aí é o toque pessoal de cada cozinheiro, mas sugiro alecrim, tomilho e louro, por exemplo)
*opcional: se quiser usar uns 50 gr de funghi secchi, hidratado em água antes de usar, dá um sabor muito peculiar ao ragú!

Doure a cebola no azeite, acrescente a carne, deixe dourar, e acrescente as cenouras
Assim que começar a "grudar" (é isso que dá a "cremosidade" e o sabor do prato), acrescente o vinho
Tempere com sal, pimenta, as ervas e jogue o caldo de legumes
Deixe cozinhar por no mínimo 1 hora (este é o truque: a carne deve ser cozida lentamente, para praticamente desfiar; na falta de tempo, use panela de pressão - uma heresia para os mais puristas - ou faça o ragú com carne moída - heresia de novo, vou arder nas chamas do inferno eternamente agora...); se possível, faça o ragú no dia anterior, fica mais encorpado ainda
Sirva com massa, de preferência fresca, com polenta ou com nhoque; pra ficar com cara de "domingo de mãe", experimente servir com bucatini, uma massa que parece um tubinho bem fino e longo (um spaghetti com furo), aqui popularmente e injustamente conhecida como "macarrão de cachorro"

Bom apetite!
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Drinks!

Minhas receitas preferidas de drinks clássicos e reconfortantes, todas muito fáceis de fazer (pois ninguém quer ter muito trabalho quando se está numa festa, não é?) e que reúnem algumas das minhas coisas favoritas na vida (vinho, rum, limão e açúcar, além de amor, sexo, cultura e culinária, claro), retiradas de um maravilhoso livrinho chamado Classic & contemporary cocktails: the essentials collection, de Linda Doeser, começando pela minha preferida, Margarita!

Margarita
Drink inventado em 1942, no México, com o intuito de ser uma forma mais "civilizada" de beber tequila (que deve ser bebida tradicionalmente da seguinte maneira: polvilhe sal no dorso da mão, lamba, chupe o limão e tome de uma vez só um "shot" de tequila)
4 a 6 pedras de gelo quebradas
3 medidas de tequila
2 medidas de suco de limão
1 medida de rum
rodela de limão e sal para decorar a borda da taça

Cuba Libre
"Long drink" muito popular nas décadas de 60 e 70
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 medidas de rum branco
coca-cola até enher o copo
rodela de limão para decorar

Daiquiri
"Daiquiri" é o nome de uma cidade cubana, lar deste drink que foi criado diante da falta de gim no país e da abundância da bebida local, o rum
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 medidas de rum branco
3/4 de medida de suco de limão
1/2 colher de chá de xarope de açúcar
(para fazer este xarope, coloque 4 colheres de sopa de água e 4 colheres de sopa de açúcar refinado em uma panela e aqueça em fogo baixo até o açúcar dissolver; após esfriar, guarde em um recipente fechado por 2 semanas antes do uso)

Mudslide
Drink cremoso, especial para ser bebido em dias frios, cujo nome não é muito sedutor (algo como "lama escorregadia")...
4 a 6 pedras de gelo quebradas
1 medida e 1/2 de Kahlúa
1 medida e 1/2 de Bailey´s
1 medida e 1/2 de vodka

Bishop
Drink feito com uma pitadinha de vinho (não vale usar vinho vagabundo), especial para aqueles restinhos que sempre ficam nas garrafas; o nome é estranho ("bispo"), mas todos sabemos o quanto os clérigos são chegados nas boas coisas da vida...
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 espremidinhas de limão
2 medidas de rum branco
1 colher de sopa de vinho tinto
1 pitada de açúcar refinado



segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ohhh, yes, fuck me baby...

A grande questão é: dá pra gozar, de verdade, somente com penetração, isto é, sem a mínima manipulação clitoriana, sem o mínimo atrito entre o corpo do outro ou do nosso corpo e a região do clitóris?

Uma coisa é:

1) sentir um prazer imenso a partir da fricção do pênis na cavidade da vagina durante a penetração (eu quase ia escrever "durante o ato sexual", o que seria ridiculamente estúpido e moralista da minha parte, pois eu estaria reduzindo o "ato sexual" ao momento da penetração, e isto, toda mulher sabe principalmente, é de uma limitação torturante e machista), sensação esta que muito provavelmente pode durar infinitos minutos, enquanto a penetração durar - mesmo levando em conta que, em alguns casos, situações, momentos, dependendo do grau de intimidade com o parceiro, do grau de desejo sentido, que não depende diretamente do grau de intimidade, vejam bem, e até mesmo do momento pelo qual o corpo passa (em determinados momentos do ciclo biológico, por exemplo), o início da penetração pode ser mais ou menos dolorido, e, além disso, a penetração repetida por um longo tempo pode se tornar desconfortável e mesmo dolorosa.

Outra coisa é:

2) durante a penetração, com o auxílio da manipulação clitoriana, seja com as mãos, com a língua, com o quadril, o pé, o joelho - sei lá, qualquer parte do corpo ou de um objeto - sentir, além do prazer que advém da penetração, uma sensação intensa, localizada no clitóris inicialmente (pois no momento do ápice a sensação se torna difusa, embora ainda se dê pra perceber que o "epicentro" de tudo seja o clitóris e suas terminações nervosas), que se torna crescente até culminar em um "clímax", que dura em média de 5 a 10 segundos (aqui estou contando com a minha experiência e a de duas ou três amigas pras quais perguntei a duração de seus orgasmos, não por ser tímida ou pudica e ter receio em perguntar isso, mas pura e simplesmente por não ter tido oportunidade ou ter me esquecido de erguntar - ps.: não se esquecer da próxima vez, independente do nível etílico de todas nós, hehe); ou

3) sem a realização da penetração, e com a manipulação direta do clitóris, sentir a mesma coisa descrita em 2 acima.

Estas pra mim são as 3 opções existentes, e nas duas finais há, de fato, gozo, orgasmo, algo semelhante ao que os homens devem sentir quando gozam também, com a diferença que para eles há a explicitação desse momento, a ejaculação (estou excluindo aqui duas ocorrências que acredito sejam exceções: mulheres que ejaculam quando gozam e homens que dizem gozar sem ejacular).

Já conversei com muitas garotas, moças, mulheres, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, solteira, enroladas, casadas, monogâmicas ou polígamas, sobre isso e, tenho que confessar, apenas uma delas (sim, uma, de um total de umas 30) afirmou categoricamente gozar com a opção 1, isto é, apenas com penetração, sem a mínima manipulação, mesmo que indireta, do clitóris. Mesmo assim, há que se considerar que, lá pelas tantas, conversa vai, conversa vem, caímos num sem fim de argumentos sobre o que de fato seria gozar ou não, se haveria diferença orgasmo e gozo; ela disse algo como: "ahhh, peraí, você está chamando de gozo aquela sensação específica, que dura segundos e é bem localizada?; ah, então tá, porque eu chamo de gozar algo mais que isso, a coisa toda mesmo, aquela coisa de explodir, de querer meter até morrer, etc., etc., etc.", e por aí foi e tenho que confessar que a partir disso já não estava entendendo mais nada... Sobre as outras "fontes" da minha pesquisa informal, algumas eram lésbicas, algumas bissexuais, outras heterossexuais, mas todas elas foram semelhantes em seus depoimentos, que vai ao encontro da minha experiência, que vou relatar abaixo.

Pela minha experiência, já senti algo bem próximo do que estou chamando de "gozo em si" (descrito na opção 2 e na 3, isto é, a sensação fulgaz e crescente decorrente da manipulação direta ou indireta do clitóris) - ou orgasmo, não importa a palavra - com a penetração, seja vaginal ou mesmo anal (sim, colegas, e tenho que confessar que por mais de uma vez senti mesmo que estava mais perto de gozar quando era penetrada atrás do que na frente... quem nunca experimentou não sabe o que está perdendo, mas isso é assunto pra um outro post), mas, para mim, gozar de fato, ter um orgasmo, como já descrevi antes, demanda a manipulação direta ou indireta do clitóris ou mesmo da parte superior da vagina (seja com os dedos, com alguma parte do corpo do outro, com uma almofada, um brinquedinho qualquer, o roçar de uma perna na outra, etc., etc., etc.); enfim, deve haver fricção de algo com a parte externa e superior da vagina, e não apenas penetração, entenderam?!


E é aqui que pergunto: e vocês, como sentem?


A questão parece batida mas, pelo que percebo, as duas vias de solução mais comuns parecem ser:
a) ou se afirma a existência do gozo com penetração (e os defensores dessa "via" tanto podem ser sexólogos, psicólogos, médicos, e qualquer "suposto saber" munido de pesquisas e comprovações anatômicas ou biológicas, como essa aqui http://chapado.wordpress.com/2008/02/25/cientistas-dizem-ter-comprovado-existencia-do-ponto-g/; quanto podem ser homens "comuns", pois - e aqui posso correr o risco de ser preconceituosa ou feminista de merda - parece mesmo ser mais fácil e cômodo acreditar nisso, já que a penetração levando ao gozo os "livra" de maiores "esforços", por assim dizer, e delimita o ato sexual para a mulher aos limites do ato sexual tal como é melhor para o homem, isto é, tudo fica limitado ao caminho banal "preliminares/penetração/ejaculação"; quanto podem ser algumas poucas mulheres que, vou ser sincera, não sei se de fato sentem o que dizem ou apenas dizem que sentem);

b) ou se nega a existência do gozo com penetração (e os defensores dessa "via" tanto podem ser as "feministas" e seus discursos políticos de "opressão masculina" - com os quais, devo confessar, concordo na maioria das vezes - quanto podem ser os mesmos sexólogos, psicólogos, médicos menciondos acima).

Há ainda aqueles que afirmam que cada mulher tem uma anatomia própria, e assim algumas de fato teriam na cavidade vaginal algumas terminações nervosas que coincidiriam com a "base" do clitóris, que estaria localizada no interior da vagina, 2 ou 3 centímetros de sua entrada (seria este o tal "ponto g"?!), daí que a penetração que levaria ao gozo seria não aquela profunda e de curta duração, mas aquela que se "dedica" à entrada da vagina, feita de modo lento e ritmado, de modo a permitir a fricção da tal "área". Além disso, e na verdade junto com isso, alguns afirmam que o "truque" todo para alcançar o tal "ponto g" estaria no formato do pênis, e assim aqueles cujos membros fossem, digamos, mais grossos do que grandes, quem sabe com um formato semelhante a um "arco", e com a "cabeça" mais gordinha do que o corpo teriam mais condições de levar " a parceira ao ápice" (ok, aqui fui muito revista nova/marieclaire, mas foi proposital). Uma coisa curiosa é que, se de fato a penetração (com um pênis ou um objeto qualquer) fosse determinante para o orgasmo da mulher... o que seria de nós ao usar absorventes internos?! Imagina, ter orgasmos eternos durante todo o tempo de permanência de um o.b. ou um tampax?! Será que ninguém lembra que temos terminações nervosas apenas no primeiro terço da vagina, nos tais 2 ou 3 centímetros da entrada, e mesmo assim terminações nervosas em quantidade bem menor do que aquelas do clitóris?!

Dessa coisa toda, o que quero dizer é: tenho medo desse papo todo de "gozo com penetração" ser uma forma moralista de limitar o prazer da mulher ao que seria mais adequado ao homem (isto é, à penetração pura e simples), ou mesmo de qualificar o orgasmo mais comum à mulher (eu quase ia dizer "o orgasmo próprio da mulher", mas vou esperar os posíveis comentários e depoimentos, que podem provar que estou errada), o orgasmo clitoriano, como algo inferior, diminuto diante do "verdadeiro" orgasmo, o vaginal ("obrigada", sr. Freud, pois essa visão é toda culpa sua), que só seria atingido por mulheres "emancipadas", "de bem com o próprio corpo e com a própria sexualidade" (de novo, dá-lhe discurso da nova e da marieclaire), pelas "verdadeiras fêmeas" (idem, idem, idem!). Disso derivam as visões equivocadas sobre a relação sexual entre mulheres: "não estaria faltando nada aí?", ou "isso é falta de quem as pegue de jeito", ou ainda "ô falta que uma rôla faz...". Mas, engraçado, nunca, nunca, nunquinha ouvi ninguém dizer, se referindo ao sexo entre os homens: "mas não está faltando nada ali (uma buceta, no caso)?". O que parece acontecer é que, se há penetração... ahhh, ok, isso sim é sexo, aí sim está o orgasmo, o gozo propriamente dito.

Além disso, tenho medo de ficar com a eterna sensação de que "há algo que não experimentei", de que existe um pote dourado no fim do arco-íris que nunca vou alcançar... Não que isso me cause angústia demasiada, ou que me impeça de ter os meus orgasmos (o que devo em grande parte ao conhecimento que tenho do meu próprio corpo, graças à minha curiosidade insana que começou na mais tenra infância, e em grande parte também à intimidade que alcancei com meu namorado - e com outros, mas não vou ficar falando aqui pra não dar margem pra ciuminhos bobos!), mas vez por outra me deparo com essa visão tacanha a respeito da sexualidade feminina, e receio que essa visão possa causar danos irreparáveis não só a mim mas às minhas "hermanitas" de gênero...

Bom, é isso. Seria bom se alguns comentários aparecessem, se alguns depoimentos e relatos surgissem... Vou ficar aqui aguardando. E um dia quem sabe conto minha história de amor com o "sr. dedinhos mágicos"...

E, pra quem quiser, abaixo estão alguns links com perspectivas as mais variadas possíveis, e, ao final, três pérolas: um texto da historiadora feminista Margareth Rago sobre o assunto e dois links para o blog nãodoisnãou - no primeiro há uma série de entrevistas com homens e mulheres ("mulheres por elas mesmas" e "homens sem segredos"), e vale checar a resposta dada por elas à questão número 7, "O que faz você gozar? Fale sobre posições, fantasias, pegadas, jeitos, toques e andamentos.", e no segundo um post sobre a suposta diferença entre orgasmo vaginal e orgasmo clitoriano, e vale, muito, mais ainda que o texto em si, checar os comentários postados por inúmeros homens e mulheres sobre o assunto, cada um falando uma coisa diferente da outra!

Texto de Margareth Rago:
Links para as entrevistas e para o post de nãodoisnãoum:
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domingo, 6 de julho de 2008

Julie, Julia e eu


Me apaixonei perdidamente, quero abandonar tudo e viver meu triângulo amoroso...
Anteontem, enquanto fazia uma das coisas de que mais gosto, passear pelas estantes de livros de culinária em uma boa livraria, me deparei com algo que, magicamente, se casa de forma brilhante com várias coisas que estão passando pela minha vida agora...
Mas, tenho que confessar, foi um daqueles encontros em que, com uma ponta de inveja inofensiva, pensamos: "droga, como isso não me ocorreu antes?!" Estou falando do lindo livro Julie & Julia - 365 Dias, 524 Receitas e 1 Cozinha Apertada, escrito por Julie Powell. O truque todo é o "desafio" proposto por Julie, uma fracasada aspirante a atriz, com um casamento estagnado, saldo negativo no banco e uma cotidiano maçante como secretária freelancer (não, não são estes os motivos pelos quais o livro se casa com meu atual momento, ainda bem), que resolve se dedicar a uma empreitada curiosa: reproduzir em casa, em um ano, as receitas de um dos mais famosos livros de culinária americanos, Mastering the Art of French Cooking, de Julia Child. A senhora Child, já falecida, foi talvez a melhor amiga das housewifes daquele país, nas décadas de 40, 50, 60, tempo em que as amélias de outrora se dedicavam exclusivamente ao forno, ao fogão, aos filhos e ao marido (elas não eram amélias "emancipadas" como nós hoje em dia, que além disso ainda se dedicam ao trabalho, às contas, aos amigos, ao stress do cotidiano, às exigências e demandas dos outros, às próprias exigências, às aspirações e ambições frustradas, e que por isso tudo morrem de inveja daquelas amélias do passado - como diziam os Ramones: às vezes, "ignorance is bliss"...). Julia tornou-se um mito por ter introduzido nos lares americanos as técnicas da culinária francesa, em receitas clássicas e até certo ponto fáceis, mas extremanente sofisticadas e sedutoras. Foi uma espécie de Ofélia daquelas bandas, uma senhora que transmitia carinho, comforto, paz, sempre preocupada em explicar da melhor maneira o passo-a-passo dos preparos de uma forma que não desesperasse as espectadoras, que não as levasse ao fundo do poço por se acharem umas tontas sem cultura gastronômica e sem o mínimo traquejo para manejar utensílios básicos (como eu me sinto na maioria das vezes). Abaixo estão as duas moças, a "desafiante" e o "mito", Julie e Julia, e aqui (http://diversao.uol.com.br/ultnot/2007/12/11/ult4326u525.jhtm) está uma excelente resenha de Julie & Julia feita pelo site Uol.













Como adquiri o livro anteontem, ainda estou na página 51, mas já fui levada às lágrimas, já dei gargalhadas sozinha, já pensei e repensei tudo que fiz da vida até aqui (sim, livros de culinária, principalmente romances culinários, têm essa capacidade sobre mim...). Na medida em que a leitura for avançando, vou postando as partes que me chamaram atenção.
Além disso, e deixando de lado a sensação de ter tomado o bonde andando, ou, pior, de ter ficado pra trás depois que ele passou, vou tentar seguir os passos de Julie... Tenho inúmeros livros de receitas, faço até mesmo um caderno de receitas (daqueles com recortes e anotações que nossas avós faziam e deixavam pra nossas mães - que deveriam ter deixado pra nós, mas que queimaram todos junto com os sutiãs...), mas sempre me pego deixando tudo de lado e enfrentando as panelas sozinha, ou no máximo com minha memória. Tenho que confessar: não sou boa em seguir receitas... Leio, aprendo, anoto, tento memorizar, marco as páginas que me interessam com inúmeros papeizinhos (já fiz até mesmo um índice com todas as receitas, de todos os livros que tenho, que cativaram minha atenção, e até colei este índice na última página do meu caderno), mas na "hora h" vou sozinha pra cozinha. De tanto proceder assim, estou percebendo que começo a repetir a "mão", quer dizer, que estou me viciando em algumas receitas, em alguns temperos, em algumas maneiras de proceder. Então, inspirada em Julie, vou tentar começar minha própria empreitada, na medida em que o tempo, o bolso e a correria do dia-a-dia me permitirem: seguir o que está escrito nos livros, da maneira como eles indicam, com os ingredientes e técnicas determinados (nada de trocar filé de saint peter por merluza, parmesão de primeira pelos queijos de pacotinho vagabundos, creme de leite fresco pelo normal, echalota por cebola, salsa fresca por desidratada, nada de colocar um pouquinho mais de leite, ou mais um ovo - mas, sejamos realistas: já perceberam como os ovos hoje em dia estão aguados e sem substância? -, ou reduzir o tempo de cozimento, ou...). E, se tudo der certo, ou mesmo não dando (o que será mais provável!), vou registrar minhas aventuras pra quem se interessa possa!
Pra terminar, um lindo trecho de Julie & Julia, em que ela relata o mágico poder que a comida tem de nos fazer esquecer da vida (ou seria vivê-la plenamente, sem se deixar aborrecer pelas mesquinharias do cotidiano?) e nos transporta para algum lugar distante, caloroso e feliz:
Então eu fiz essa sopa, Potage Parmentier,
com a receita tirada de um livro de culinária publicado quarenta anos atrás, aquele que eu roubara de minha mãe alguns meses antes. E a sopa ficou boa - inexplicavelmente boa. Comemos no sofá, com as tigelas equilibradas nos joelhos, em um silêncio quebrado vez ou outra por risadinhas enquanto assistíamos a uma lourinha atrevida eliminar vampiros na televisão. Dali a pouco estávamos sorvendo os restos de nossa terceira e última porção (...). Algumas horas antes, após minha consulta com o ginecologista, enquanto olhava para as verduras e os legumes na mercearia coreana, eu me pegava pensando: "Estou com 29 anos, nunca vou ter filhos ou um emprego recente, meu marido vai me abandonar e eu vou morrer sozinha, numa casa caindo aos pedaços e afastada da cidade com mais de vinte gatos, e vai levar duas semanas para alguém sentir o cheiro". Contudo, para meu alívio, três tigelas de sopa mais tarde eu não estava pensando em nada.
Estava recostada no sofá, fazendo minha digestão, sossegada.
A sopa de Julia Child me deixara vulnerável.
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sábado, 5 de julho de 2008

As flores de plástico não morrem, mas não têm a mínima graça...


Acho que sou a única pessoa do mundo que adora flores mas não gosta de buquês, pelo menos não daqueles padronizados que encontramos nas floriculturas... Por ironia, os dois únicos que ganhei vão ficar pra sempre na minha memória, não tanto pela beleza, mas pelo significado. O primeiro recebi do meu pai, por ocasião da minha formatura (há uns bons dez anos), e era tão cafona que vinha com glitter pulverizado nas pétalas de rosa (outro detalhe: a rosa é uma flor que nunca chamou minha atenção, por incrível que pareça e por mais que tenha ganhado inúmeras homenagens, em música, poema, filme...). O segundo, recebi nesse último dia dos namorados do meu marido (às vezes o chamo de namorado, às vezes de marido, um dia escrevo sobre o porquê), que estava de cama se recuperando de uma cirurgia e pediu ao pai que comprasse flores e bombons (ah, os homens e seus clichês sobre "romantismo"...) para as garotas da casa (eu e a mãe dele, claro). Dessa vez, o buquê veio sem glitter, ainda bem, mas alguém pode me explicar o motivo das misturas de flores que os donos de floricultura promovem?! Há sentido em misturar miosótis, que são florzinhas delicadas, inocentes, leves, quase "virginais", com rosas vermelhas, que remetem à sedução, paixão, a tudo menos delizadeza e leveza?! Tudo bem que esteticamente tenha ficado bonito (o vermelho suculento das rosas com os pontinhos brancos dos miosótis), mas imagino que montar um arranjo de flores tenha um fundamento que não só a imagem, devendo passar por algum intuito bem pensado, como a necessidade de representarar algo com sentido, com um propósito, sei lá, vai ver que estou viajando... E os embrulhos?! Alguém também me explica aqueles plásticos transparentes com "bordados" na cor branca em forma de coração ou flores (que redundância) ou bolinhas?! E com laços cafonérrimos que mais parecem uma couve-flor de tão duros e pesados?! Eles passam laquê nos laços?! Ficam todos parecendo aqueles penteados de noiva feitos em salão de quinta, em que o cabelo fica esticado na cabeça e atrás cheio de rolinhos endurecidos e presos com um sem fim de grampos... De toda forma, depois de uns dias, desmontei o buquê em vários arranjos (rosas foram para um lado, miosótis pro outro) que duraram dias e alegraram a casa!
Esta aí uma coisa que eu queria muito saber (além de tricô, crochê, corte e costura, e decoração de bolos): montagem de arranjos florais, design de flores, qualquer que seja o nome disso. Há tantos e tão lindos! E eu queria muito saber melhor a arte da jardinagem... Não gosto muito de remexer na terra, e não tenho muita sensibilidade pra entender os desejos das plantinhas... Tenho em casa uma árvore da felicidade (que se não fossem as dicas da minha mãe não estaria sobrevivendo há 5 anos), uma espada de são jorge (graças a ela também, e graças ao meu namorado e suas crendices sem propósito: cismou que precisamos de algo que espante as más vibrações da igreja que se instalou ao lado de casa!; precisamos é da polícia e de alguém que faça cumprir a lei do silêncio, isso sim..), dois vasinhos de brotos de cebolinha, um de manjericão (frutos da minha recente empreitada em ser uma jardineira fiel e feliz e depois de muitas mancadas durante o processo de concepção e nascimento das mudinhas), e mais uma mini estufa de sementes de pimenta, salsa e cominho (meras sementes, pois há duas semanas espero os brotinhos nascerem e nada...).
Me lembro da minha casa na infância, que até laranjeira e parreira tinha, e uma árvore linda e deliciosa da araçá, uma frutinha que lembra uma goiaba miudinha e que forrou meu estômago durante boa parte da minha mocidade e das minhas brincadeiras no quintal! Havia também a horta, com couve, alface, temperos. E havia o galinheiro (sem galinhas...), que foi por anos minha "casa", onde eu fazia "cozinhadinho", isto é, montava um fogãozinho de tijolos e carvão pra fazer os "preparos" de arroz e plantinhas, e para a qual eu ia depois de um "dia de trabalho", ou seja, depois de fingir por horas ser secretária e preencher papéis que meu pai trazia do banco pra eu brincar. Vejam bem, amélia que é amélia brinca de dona de casa desde a infância, mas uma dona de casa emancipada, que também trabalha e cuida de si (sim, pois outra das minhas diversões era colocar roupas e maquiagens da mãe e da avó, lambrecar o cabelo com misturas de cremes, esfoliar o corpo com açúcar - isso eu faço até hoje! - , ficar horas na frente do espelho ensaiando caras e bocas e passos de dança).
Este post deu esta volta toda apenas pra falar do que aprendi hoje de novo, graças ao blog Rainhas do Lar: o nome da plantinha da foto acima, Kalanchoe (flor da fortuna), que é uma das minhas paixões, pois são baratinhas (por volta de 1 real), duram muito (a última que comprei está no banheiro desde o mês passado), por serem da família das suculentas são fáceis de cuidar (sobrevivem sem rega por até 3, 4 dias), são encontradas nas mais variadas cores, e são lindas, charmosas e delicadas! Toda semana, ou no mínimo sempre que vou ao mercado, trago pra casa flores pra colorir e alegrar o dia-a-dia, e as florzinhas da fortuna têm sido minhas companheiras mais freqüentes! Uma homenagem a elas então:

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Food porn e comfort food em um texto como deve ser: substancioso e preparado lentamente e com amor...


"Food porn" significa algo como "comida pornográfica", ou "pornografia gastronômica", na falta de uma tradução mais adequada... Na verdade, o que vem sendo chamado de "food porn" nada mais é do que a relação íntima entre comida e erotismo, entre comida e sexo, entre comida e libido, entre comida e afeto. Há uma série de cozinheiros, em todas as partes do mundo, que representam esse novo/velho tipo de relação com a comida, que tem muito a ver com "comfort food", quer dizer, a culinária afetiva, que remete aos sabores da infância, aos pratos feitos por mães e avós, à tradição e à ancestralidade, ao amor pelo próximo, ao afeto que depositamos em um prato ao cozinhá-lo para alguém. Eu disse “novo/velho” logo acima pois os cozinheiros que se dedicam ao “comfort food”, por um lado, tentam resgatar os valores, tradições e ingredientes das culinárias de seus países, independente dos modismos e reduzindo o uso de técnicas clássicas (francesas principalmente) ao máximo e, por outro lado, são atualmente os jovens que se cansaram da pseudo “novidade” gastronômica atual; aqui no Brasil há por exemplo Morena Leite, Ana Luisa Trajano, Carla Pernambuco (minha preferida) e mesmo Roberta Sudbrack. Além disso, disse "cozinheiros" várias vezes de forma proposital, pois uma das características do "comfort food", e mesmo o “food porn”, é a rejeição do ascetismo, da frieza, da habilidade mecânica dos chefs de cozinha que, principalmente depois da tal "gastronomia molecular" de Ferran Adriá e comparsas, viraram rôbos procurando perfeição em último grau, principalmente perfeição técnica e estética, se esquecendo do principal, o paladar e o amor.
Nos Estados Unidos, os pratos clássicos da "comfort food" são aqueles da culinária sulista, dos negros, das grandes famílias, de Nova Orleans e Luisiana, a culinária cajun, a verdadeira culinária americana, (por favor, não pensem em "junk food"!): broa de milho, jambalaya, gumbo. Não é à toa que essa culinária é chamada de "soul food", ou "comida da alma"!
Na Europa, há a culinária italiana e os pratos do norte e da Toscana (região cuja principal cidade é Florença), locais em que a vida no campo ainda é regra: pratos ricos, densos e substanciosos (diferentes da culinária do sul, das ilhas, por exemplo a Sicília, com pratos mais leves, com peixes, frutos do mar e vegetais frescos), com muita carne e embutidos para os diferentes tipos de ragú, sopas, massas feitas em casa, de todos os jeitos e formatos, gnocchi, risotto, muito azeite, queijos, principalmente de cabra, e tomate cozido lentamente; e as sobremesas, como o tiramisu e a panna cotta (minha sempre favorita!)... Os italianos do norte são tão apaixonados por suas raízes e por suas receitas tradicionais que se recusam a passar os segredos adiante, e se o fazem estabelecem uma série de exigências ao "candidato". E há também a culinária francesa clássica, anterior à "nouvelle cuisine", e os tradicionais molhos, à base de manteiga e do suco das carnes por exemplo, sopas (como a clássica bouillabaisse, sopa de peixe), o uso do pato (magret) e do ganso (e do seu fígado, o foie gras), os pratos "confit" (confit de pato, confit de ganso: carnes cozidas lentamente na sua própria gordura), os cozidos (como boeuf bourguignon e pot au feu), os souflês, a deliciosa tarte tatin...
No Brasil, pensem nos pratos que, independente da região, eram feitos pelas famílias para sustentar seus membros durante a labuta, ou mesmo os pratos festivos, contanto que todos eles contenham ingredientes regionais e passem longe de técnicas rebuscadas (aqui em Minas, há a comida da "roça": os pratos com feijão, as carnes molhadas - frango com quiabo e ao molho pardo - , os doces e queijos tradicionais, a comida da "quitanda", quer dizer, bolos, biscoitos e pães).
Tantas delícias, tantas histórias!
Mas e a tal "food porn"?! Primeiro, devemos lembrar o componente de marketing que o termo carrega (juntar comida e sexo, quer composição mais atrativa que essa?!), mas, a despeito disso, fato é que as novas "musas" da comida erótica participam de bem sucedidos "empreendimentos" culinários: programas de tv (nos EUa há um canal dedicado inteiramente a isso: Food TV; e no Brasil há o GNT, com boa parte da programação dedicada aos prazeres da boa mesa), livros, cursos, produtos patenteados, etc. Juntem comida, garotas bonitas, ambas muito apetitosas e, bingo! Isso vende! Mas longe de mim fazer uma crítica a essa onda da comida erótica, não! Acho maravilhoso, instigante, emocionante que aquela antiga imagem da mulher gostosa, fogosa, que se dedica a proporcionar prazer e alegria à família, ao amado (ou ao pretendente a amado), aos amigos, esteja enfim reaparecendo e sendo celebrada! Chega de uma relação acadêmica e arrogante com a comida (todos hoje em dia são metidos a entendedores, a "foodies", se acham os tais por conhecerem os restaurantes da moda, fazerem "viagens eno-gastronômicas", cursos e mais cursos caríssimos)! Chega de anorexia e contagem de calorias! Viva o frango da roça, os queijos gordurosos, os vegetais da estação, os acertos e erros na beira do fogão, a confraternização, a mesa farta e cheia, a celebração em torno do paladar! Eu sou a prova viva disso: acabo sempre salgando de mais ou de menos, cozinhando após o ponto ou bem antes dele, colocando muita água, muita farinha, muito açúcar ou esquecendo completamente deles, deixando a comida quase queimar pois estava entretida colocando o papo em dia ou bebendo uma (uma?!) taça de vinho... Às vezes dá certo, outras vezes longe disso! Mas não há nada na vida que me deixe mais feliz do que fazer comida, falar de comida, ler sobre comida, ver comida... ser comida! Ops! Tá vendo, não falei que essa tal culinária erótica era "quente"?!?!?!
Para terminar, a dica de um vídeo de Nigella Lawson (há inúmeros no youtube), a musa maior do "food porn": http://youtube.com/watch?v=lZHm3gTAuOw&feature=related Nigella tem vários livros maravilhosos, programas de tv (em que aparece em sua própria casa, cozinhando para seus filhos, marido e amigos), é linda, charmosa, cheirosa (aposto que é!), deliciosa, apetitosa, assim como a comida que ela faz! Neste vídeo ela diz que "não há nada mais maravilhoso na vida e na comida do que as receitas passadas de geração para geração"... Eu bem que queria comer a comida dela, e até comê-la quem sabe (aqui em casa meu namorado é fã de carteirinha das curvas e das receitas de Nigella)... Se quiserem também, acessem o site http://www.nigella.com/ e sejam felizes!


terça-feira, 1 de julho de 2008

Fidelidade


Duas frases sobre este tema tão delicado.
Cada uma delas apontando para um ideal de relacionamento e amor bastante distintos, mas cada uma delas contendo a sua própria verdade.
Tenho lutado muito para achar uma maneira de conciliar as duas, mas me pergunto se isso é possível...

"A mulher precisa de um motivo para trair; o homem precisa de um motivo para não trair"

"Fidelidade tem mais a ver com sinceridade do que com a posse mútua incondicional..."


(ps: a fonte dessas frases não importa...)

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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Tributo a Lou Andreas-Salomé


"Ouse, ouse tudo!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo!
Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!"
(Lou Andreas-Salome)

Sem nenhum motivo especial (se bem que somente a vida dela já é motivo suficiente para um tributo), quero fazer uma homenagem a uma das mulheres mais brilhantes que a humanidade já conheceu: a pensadora e escritora Lou Andreas-Salomé, nascida em 1861 e falecida em 1937, dotada de atributos físicos e intelectuais que a tornaram membro de um círculo de pensadores seleto do século passado (e amante de alguns deles também), como o pai da psicanálise Sigmund Freud, o filósofo Nietzsche, o poeta Rainer Maria Rilke, entre outros. Nietzsche dizia ser ela a mulher mais brilhante que ele havia conhecido, e por isso mesmo deve ter se disposto a aceitar o triângulo amoroso estabelecido entre ele, Lou e o filósofo Paul Rée (com quem ela vivia antes, durante e depois de conhecer e se relacionar com Nietzsche, e que parece ter se suicidado em virtude da ruptura de seu relacionamento amoroso com Lou).

Lou tinha idéias curiosas sobre amor e casamento, questionava (e mesmo repudiava) a ligação entre afeto e sexo, e se recusava terminantemente a aceitar o modelo de família tradicional, chegando mesmo a exigir de Andreas, seu segundo marido, a promessa de que nunca teriam filhos. Foi cortejada por inúmeros homens, tendo se unido a alguns deles por períodos de sua vida, mas isso nem de longe significava que ela aceitava as convenções e regras estabelecidas pelo seu círculo social, a alta burguesia européia, tendo se mantido até o fim da vida um espírito livre e independente, uma mulher exuberante e desafiadora. Uma de suas afirmações mais contundentes sobre o amor está em sua obra Reflexões sobre o problema do amor: "Só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o passar do tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser entendido como uma força vital. Por isso nada é mais inepto em amor que se adaptar um ao outro, se polir um contra o outro, e todo esse sistema de intermináveis concessões mútuas, feitas unicamente para os seres constrangidos, por razões puramente práticas e impessoais, a suportar sua vida em comum, atenuando o mais racionalmente possível este constrangimento. E quanto mais dois seres chegaram ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, se transformar um no parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em seu solo particular, a fim de se tornar um mundo para o outro."

Apesar de ter se cercado sempre da companhia de homens (que faziam as vezes de seus amantes, mentores intelectuais, parceiros nos debates acadêmicos, etc.), Lou mateve uma relação próxima com a também escritora Anais Nïn. Em prefácio a uma edição da mais importante obra de Lou, A humanidade da mulher, ao tentar elaborar uma biografia da amiga (tarefa árdua em virtude de sua vida agitada e misteriosa), afirmou: "O conflito entre o desejo da mulher de se fundir com o amado e ao mesmo tempo manter sua identidade própria é a luta da mulher moderna. Lou viveu todas as fases e evoluções do amor, da entrega à recusa, da expansão à contração. Casou-se e levou vida de solteira, amou homens tanto mais velhos quanto mais novos." A própria Lou gostava de dizer: “Não posso ser fiel aos outro, apenas a mim mesma".

Ao fim da vida, em conversa com o escritor H. F. Peters, Lou proferiu a síntese de sua caminhada: “A vida humana – na verdade, toda a vida – é poesia. Nós a vivemos inconscientemente, dia a dia, fragmento a fragmento, mas, na sua totalidade inviolável, ela nos vive”.

Alguns depoimentos sobre Lou:
“A mulher começa a despertar em Lou” (Arthur Schnitzler, médico e dramaturgo austríaco)
“Durante a vida de Salomé, ela presenciou o fim da tradição romântica e se tornou parte da evolução do pensamento moderno, que frutificou no século XX. Salomé foi a primeira ‘mulher moderna’. A natureza de suas conversa com Nietzsche e Rilke antecipou a posição filosófica do existencialismo. E, por seu trabalho com Freud, ela figurou com destaque na evolução inicial e na prática da teoria psicanalítica. A princípio, eu a vi como heroína – como merecedora do culto do herói, no que esse culto tem de mais positivo. As mulheres sofrem hoje, tremendamente, da falta de identificação com uma figura feminina heróica”. (Barbara Kraft, escritora)
"Lou Andreas-Salomé simboliza a luta para transcender convenções e tradições nos modos de pensar e de viver. Como é possível a uma mulher inteligente, criativa, original, relacionar-se com homens de gênio sem ser dominada por eles?" (Anais Nïn)
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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sobre Internacionalismo

Reflexões interessantes do escritor americano Mark Twain, que viveu entre os séculos XIX e XX (retiradas de um texto que li numa revista destas de circulação semanal bem antiga, que não terá seu nome referido aqui, por razões óbvias): “Cidadania? Não temos cidadania! Em lugar dela, ensinamos o patriotismo, de que Samuel Johnson dizia, já há 140 ou 150 anos atrás, ser o último refúgio do canalha – e eu sei que ele estava certo. Lembro-me de quando era menino ouvi repetida muitas e muitas vezes a frase ‘Minha pátria, certa ou errada, minha pátria’. Uma idéia absolutamente absurda”.

Perspicaz este escritor. Dele, só sabia que havia feito As aventuras de Tom Sayer, que nunca li. Primeiro, acho que, mais do que uma leitura anti-imperialista do trecho (a postura americana era o alvo da crítica de Twain), devemos ver nele também uma revolta contra todo e qualquer nacionalismo (seja o país em questão os EUA, seja Inglaterra, China, França, Brasil, ou qualquer outro pedaço de terra com uma cerca imaginária e que se intitule nação). O surgimento do “espírito” nacionalista remonta ao final do feudalismo, quando, frente ao surgimento e desenvolvimento do comércio entre os feudos, e devido à insegurança nas estradas que ligavam um feudo ao outro, às abusivas taxas e pedágios e à variedade de moedas locais (o que obviamente dificultava a troca de mercadorias), a nascente burguesia rompe com a frágil estrutura social até então dominante, baseada na autoridade imposta pela Igreja Católica e pelos senhores feudais (ai meu segundo grau!), e junta suas forças com a monarquia em ascensão, pleiteando uma moeda única, uma lei única, um governo único, etc., em lugar da “fragmentação” da sociedade feudal. A unificação, sob a alcunha de “nação”, era o que se desejava à época. Como se vê, então, esta baboseira toda de render tributos (e dar a própria vida, às vezes) à pátria, a despeito do papel ocupado pela mesma (se certa ou não, como diz o trecho mencionado por Twain), e mesmo quando esta pátria, em nome do “desenvolvimento”, massacra, explora e humilha os seus semelhantes – quer dizer, os homens não só de outros pontos do globo mas também aqueles que vivem no mesmo espaço físico, dentro da mesma “cerca” –, possui fundamentos não só morais, políticos, ideais, etc., mas, principalmente, econômicos, concretos. Hoje, vemos este “sentimento” imperar absoluto (o trocadilho não é à toa) não só nos países desenvolvidos (o que dizer da França, berço das pretensas “fraternidade”, “justiça” e “igualdade”... bem, isto tudo para poucos, ou seja, para a burguesia, que queria mandar às favas o rei do qual tinha se servido uma vez) mas mesmo nos rincões mais escondidos do planeta (como, sei lá, Burundi, Líbia, Sudão, etc.). “Nós” contra “eles”, ou “nós” com “eles”, dependendo dos interesses que guiam as relações internacionais, interesses estes que, é até estúpido e banal dizer, são sobretudo econômicos: nos juntamos, nos aliamos, ou nos separamos e declaramos guerra aos outros em nome do desenvolvimento do próprio capitalismo, e não em nome do desenvolvimento da humanidade... A mola propulsora aqui, parafraseando Marx (nunca é demais), é a auto-reprodução do capital, e não o desenvolvimento livre da humanidade; o objetivo por trás disso tudo é suprir as necessidades do capital, e não as necessidades humanas. Como também disse Twain, “Fomos até lá [ele se referia à expansão territorial americana, invadindo Cuba, Filipinas, Porto Rico, etc., mas aqui podemos pensar, de novo, não só os EUA conquistando tudo, mas qualquer país querendo se impor frente ao outro] para conquistar, não para salvar”.

Internacionalismo, então, este é o caminho e o objetivo. Supressão de todas as barreiras que nos separam, sejam elas geográficas, políticas, econômicas, morais. Um só povo, mas com toda a pluralidade cultural possível e saudável (e caberia aqui uma longa digressão sobre relativismo e universalismo, que não vem ao caso agora), com toda a real riqueza que o Homem é capaz de produzir, “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”, como dizia Marx, não importa a cor, raça, gênero ou orientação sexual (obviamente não vou colocar aqui “credo”, pois comunismo e internacionalismo sem supressão da religião, sinto muito Leonardo Boff e a pseudo-esquerda, é um contra-senso).

Pra terminar, e aliviar o peso do tema, uma gracinha: o mundo é mesmo uma bunda... E, reparem bem a foto: o c* do mundo é a África (renegada, isolada, usada)...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Eu já...


Seguindo a idéia dos blogs Em que posso lhe servir?, Menina de Lord Kronus (vejam ao lado nas listas de links), e outros mais, vai aí a minha própria lista...
Resta saber, do que vou escrever, o que é verdade, o que é fantasia, o que é realidade, o que é só vontade...

Eu já...
... tive dois (três, quatro) namorados ao mesmo tempo...
... tive dois (três, quatro) amantes ao mesmo tempo...
... chorei após gozar (de felicidade)...
... chorei após gozar (de tristeza)...
... me achei frígida e/ou assexuada...
... senti culpa por pensar em sexo...
... e por fazer sexo...
... tive um amante mais novo e manipulável...
... me arrependi por isso...
... namorei um cara 20 anos mais velho (isso quando eu mal tinha saído da adolescência)...
... e fui manipulada (e apaixonada) por ele...
... mas não me arrependo disso...
... transei com uma amiga por curiosidade (e gostei)...
... me masturbei no banheiro do trabalho...
... e no banheiro da faculdade...
... e no banheiro do cinema...
... e no cinema...
... e com alguém ao lado, dormindo...
... quis matar minha mãe (e meu pai, e Freud)...
... menti pro analista (como se ele quisesse a verdade!)...
... me apaixonei pelo analista (como se essa paixão fosse de verdade!)...
... saí sem calcinha mas voltei pra casa, por puro nervoso (e nojo)...
... saí de casa sem anágua, e voltei pra casa, por puro costume...
... transei sem ter vontade...
... transei só por vontade...
... tive caso com homem comprometido...
... dividi um paquera com um amigo...
... menti e enganei pra transar com alguém...
... menti e enganei alguém com quem queria transar...
... apanhei na "hora h" e gostei (muito)...
... apanhei fora de hora, e, claro, não gostei (mas perdoei)...
... nunca participei de um ménagè...
... mas penso nisso de vez em quando...
... nunca fui a uma casa de swing, nem pra olhar...
... mas penso nisso, e não só de vez em quando...
... gozei sonhando, inúmeras vezes...
... fingi que estava gozando...
... desconfiei de quem diz gozar só com penetração...
... fingi que gozava só com penetração...
... mas nunca fingi que gozava por trás...
... senti sinceramente que prefiro atrás, inclusive...
... transei mais de dez vezes em menos de oito horas...
... me apaixonei platonicamente, incontáveis vezes...
... por amigos e por inimigos...
... e por astros da tv (e isso há pouco tempo)...
... traí quem merecia...
... traí quem menos merecia...
... e depois abandonei um casamento, por amor (a outro)...
... e fui perdoada...

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domingo, 15 de junho de 2008

Ser Amélia


Execrada pelas feministas como modelo de mulher submissa, passiva, escravizada pelo seu homem, Amélia não teve ainda uma verdadeira defesa... Alguém em sã consciência, sabendo ser Mário Lago o autor da letra, e sabendo ser ele quem é, acredita que ele teria a audácia e a insensibilidade de menosprezar, diminuir, ridicularizar a mulher?! Imagino que os/as detratores da música sequer se deram ao trabalho de lê-la por inteiro... A letra na verdade começa como uma crítica às mulheres que exigem atenção, demandam, controlam, se resumem a bonecas cheias de necessidades supérfluas e consumistas. Diante disso, os autores, saudosistas, relembram a tal Amélia, que era mulher de verdade, companheira e pronta para enfrentar as adversidades, por pior que fossem. Ao final, dizem que Amélia não tinha vaidade, mas em um mundo em que "vaidade" não significa exaltação da própria beleza e formosura, mas adequação obcecada a um padrão de "beleza", eu mesma não quero ser "vaidosa"...
Rendendo uma homenagem às Amélias da vida, que sabem ser mulher, sabem quem são e não necessitam das validações sociais estúpidas de hoje em dia (isto é, a mídia, ou mesmo o "senso comum", que impõem a nós um papel que supostamente deveríamos representar, daquilo que deveríamos ser), aí está a letra, completa. Leiam, sem preconceito, e façam as próprias leituras!
A propósito, a legenda da foto de abertura diz: "Foda-se essa merda de dona-de-casa dos anos 50"; sim, escolhi de caso pensado: também tenho minha "veia" feminista e quero que todas as idéias castradoras e machistas sobre o que é ser mulher, principalmente essas idéias que remontam aos anos 50 e 60, se explodam.

Ai, que saudades da Amélia...
(Ataulfo Alves e Mário Lago)

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer

Ai, meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Mas quando me via contrariado
Dizia: meu filho, o que se há
de fazer ?

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
.

Entre o amor e a perversidade

Dias desses estava lendo umas dessas revistas semanais pela internet, uma edição de 2006, sobre “violência doméstica”. Fiquei pensando sobre o que chamam de “violência moral” (que se manifesta sob a forma de dominação psicológica e mesmo gestos “leves” de intimidação através de abuso físico), uma forma tão destrutiva quanto a violência propriamente física, mas que passa desapercebida por não deixar marcas aparentes, no corpo. A alma, essa sim, vai ficando vagarosamente danificada, ressecada. Nessa revista havia um texto com “sintomas”, “sinais” de que alguém é um violento em potencial, e propunha maneiras de identificar comportamentos do que era classificado como “perversão”, principalmente em se tratando de relacionamentos amorosos. Reproduzi abaixo alguns dos comportamentos identificados pela revista, especificamente aqueles que dizem ou já disseram respeito à minha vida, e que são tão “discretos” e “cotidianos” que muitas vezes não percebemos neles toda a intensidade que realmente têm.


1) Durante a fase de início da relação:

* Apresenta-se como injustiçado, uma pessoa que sofreu por falta de amor, de apoio, e teve que construir tudo sozinho; na maioria das vezes isso é verdade, embora ele esteja estimulando seu instinto maternal.

2) Após o início da relação, na fase inicial de perversidade:

* Fica aborrecido com freqüência e você se vê desfazendo mal-entendidos.
* Não admite recusas, sua vontade tem que ser satisfeita a qualquer custo.
* Chama por você e exige que você pare o que está fazendo para atendê-lo.
* Tem humor instável, e deixa você aflita por nunca saber o que vai detonar uma crise.
* Suas mentiras começam a aparecer. Mente tanto que se esquece do que falou e, quando você o questiona sobre a veracidade do que está falando, age como se você fosse uma criminosa.

3) Com a perversidade já instalada:

* Agride-a verbalmente, faz ameaças para magoar, embaraçar ou restringir sua liberdade; e, quando discutem, baixa o nível.
* Faz inúmeras perguntas encadeadas apenas para intimidar, sem o objetivo real de saber as respostas.
* Quebra coisas, dá socos na parede, e usa violência simbólica, como rasgar fotos ou destruir seus objetos pessoais.

* Minimiza os acessos de raiva, como se cada um fosse uma exceção.
* Faz você acreditar que não é violento, e que você é a responsável pelas perdas de controle dele.
* Culpa os outros pelos próprios ataques. É você que o leva à loucura.
* É capaz de se mostrar frágil fisicamente, mas apenas você conhece sua verdadeira força.

(Fonte:Assédio moral: entre o amor e a perversidade, de Leila Sodero Rezende e Vânia Crespo)