(Lou Andreas-Salome)
Sem nenhum motivo especial (se bem que somente a vida dela já é motivo suficiente para um tributo), quero fazer uma homenagem a uma das mulheres mais brilhantes que a humanidade já conheceu: a pensadora e escritora Lou Andreas-Salomé, nascida em 1861 e falecida em 1937, dotada de atributos físicos e intelectuais que a tornaram membro de um círculo de pensadores seleto do século passado (e amante de alguns deles também), como o pai da psicanálise Sigmund Freud, o filósofo Nietzsche, o poeta Rainer Maria Rilke, entre outros. Nietzsche dizia ser ela a mulher mais brilhante que ele havia conhecido, e por isso mesmo deve ter se disposto a aceitar o triângulo amoroso estabelecido entre ele, Lou e o filósofo Paul Rée (com quem ela vivia antes, durante e depois de conhecer e se relacionar com Nietzsche, e que parece ter se suicidado em virtude da ruptura de seu relacionamento amoroso com Lou).
Lou tinha idéias curiosas sobre amor e casamento, questionava (e mesmo repudiava) a ligação entre afeto e sexo, e se recusava terminantemente a aceitar o modelo de família tradicional, chegando mesmo a exigir de Andreas, seu segundo marido, a promessa de que nunca teriam filhos. Foi cortejada por inúmeros homens, tendo se unido a alguns deles por períodos de sua vida, mas isso nem de longe significava que ela aceitava as convenções e regras estabelecidas pelo seu círculo social, a alta burguesia européia, tendo se mantido até o fim da vida um espírito livre e independente, uma mulher exuberante e desafiadora. Uma de suas afirmações mais contundentes sobre o amor está em sua obra Reflexões sobre o problema do amor: "Só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o passar do tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser entendido como uma força vital. Por isso nada é mais inepto em amor que se adaptar um ao outro, se polir um contra o outro, e todo esse sistema de intermináveis concessões mútuas, feitas unicamente para os seres constrangidos, por razões puramente práticas e impessoais, a suportar sua vida em comum, atenuando o mais racionalmente possível este constrangimento. E quanto mais dois seres chegaram ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, se transformar um no parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em seu solo particular, a fim de se tornar um mundo para o outro."
Apesar de ter se cercado sempre da companhia de homens (que faziam as vezes de seus amantes, mentores intelectuais, parceiros nos debates acadêmicos, etc.), Lou mateve uma relação próxima com a também escritora Anais Nïn. Em prefácio a uma edição da mais importante obra de Lou, A humanidade da mulher, ao tentar elaborar uma biografia da amiga (tarefa árdua em virtude de sua vida agitada e misteriosa), afirmou: "O conflito entre o desejo da mulher de se fundir com o amado e ao mesmo tempo manter sua identidade própria é a luta da mulher moderna. Lou viveu todas as fases e evoluções do amor, da entrega à recusa, da expansão à contração. Casou-se e levou vida de solteira, amou homens tanto mais velhos quanto mais novos." A própria Lou gostava de dizer: “Não posso ser fiel aos outro, apenas a mim mesma".
Ao fim da vida, em conversa com o escritor H. F. Peters, Lou proferiu a síntese de sua caminhada: “A vida humana – na verdade, toda a vida – é poesia. Nós a vivemos inconscientemente, dia a dia, fragmento a fragmento, mas, na sua totalidade inviolável, ela nos vive”.
Alguns depoimentos sobre Lou: