segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ohhh, yes, fuck me baby...

A grande questão é: dá pra gozar, de verdade, somente com penetração, isto é, sem a mínima manipulação clitoriana, sem o mínimo atrito entre o corpo do outro ou do nosso corpo e a região do clitóris?

Uma coisa é:

1) sentir um prazer imenso a partir da fricção do pênis na cavidade da vagina durante a penetração (eu quase ia escrever "durante o ato sexual", o que seria ridiculamente estúpido e moralista da minha parte, pois eu estaria reduzindo o "ato sexual" ao momento da penetração, e isto, toda mulher sabe principalmente, é de uma limitação torturante e machista), sensação esta que muito provavelmente pode durar infinitos minutos, enquanto a penetração durar - mesmo levando em conta que, em alguns casos, situações, momentos, dependendo do grau de intimidade com o parceiro, do grau de desejo sentido, que não depende diretamente do grau de intimidade, vejam bem, e até mesmo do momento pelo qual o corpo passa (em determinados momentos do ciclo biológico, por exemplo), o início da penetração pode ser mais ou menos dolorido, e, além disso, a penetração repetida por um longo tempo pode se tornar desconfortável e mesmo dolorosa.

Outra coisa é:

2) durante a penetração, com o auxílio da manipulação clitoriana, seja com as mãos, com a língua, com o quadril, o pé, o joelho - sei lá, qualquer parte do corpo ou de um objeto - sentir, além do prazer que advém da penetração, uma sensação intensa, localizada no clitóris inicialmente (pois no momento do ápice a sensação se torna difusa, embora ainda se dê pra perceber que o "epicentro" de tudo seja o clitóris e suas terminações nervosas), que se torna crescente até culminar em um "clímax", que dura em média de 5 a 10 segundos (aqui estou contando com a minha experiência e a de duas ou três amigas pras quais perguntei a duração de seus orgasmos, não por ser tímida ou pudica e ter receio em perguntar isso, mas pura e simplesmente por não ter tido oportunidade ou ter me esquecido de erguntar - ps.: não se esquecer da próxima vez, independente do nível etílico de todas nós, hehe); ou

3) sem a realização da penetração, e com a manipulação direta do clitóris, sentir a mesma coisa descrita em 2 acima.

Estas pra mim são as 3 opções existentes, e nas duas finais há, de fato, gozo, orgasmo, algo semelhante ao que os homens devem sentir quando gozam também, com a diferença que para eles há a explicitação desse momento, a ejaculação (estou excluindo aqui duas ocorrências que acredito sejam exceções: mulheres que ejaculam quando gozam e homens que dizem gozar sem ejacular).

Já conversei com muitas garotas, moças, mulheres, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, solteira, enroladas, casadas, monogâmicas ou polígamas, sobre isso e, tenho que confessar, apenas uma delas (sim, uma, de um total de umas 30) afirmou categoricamente gozar com a opção 1, isto é, apenas com penetração, sem a mínima manipulação, mesmo que indireta, do clitóris. Mesmo assim, há que se considerar que, lá pelas tantas, conversa vai, conversa vem, caímos num sem fim de argumentos sobre o que de fato seria gozar ou não, se haveria diferença orgasmo e gozo; ela disse algo como: "ahhh, peraí, você está chamando de gozo aquela sensação específica, que dura segundos e é bem localizada?; ah, então tá, porque eu chamo de gozar algo mais que isso, a coisa toda mesmo, aquela coisa de explodir, de querer meter até morrer, etc., etc., etc.", e por aí foi e tenho que confessar que a partir disso já não estava entendendo mais nada... Sobre as outras "fontes" da minha pesquisa informal, algumas eram lésbicas, algumas bissexuais, outras heterossexuais, mas todas elas foram semelhantes em seus depoimentos, que vai ao encontro da minha experiência, que vou relatar abaixo.

Pela minha experiência, já senti algo bem próximo do que estou chamando de "gozo em si" (descrito na opção 2 e na 3, isto é, a sensação fulgaz e crescente decorrente da manipulação direta ou indireta do clitóris) - ou orgasmo, não importa a palavra - com a penetração, seja vaginal ou mesmo anal (sim, colegas, e tenho que confessar que por mais de uma vez senti mesmo que estava mais perto de gozar quando era penetrada atrás do que na frente... quem nunca experimentou não sabe o que está perdendo, mas isso é assunto pra um outro post), mas, para mim, gozar de fato, ter um orgasmo, como já descrevi antes, demanda a manipulação direta ou indireta do clitóris ou mesmo da parte superior da vagina (seja com os dedos, com alguma parte do corpo do outro, com uma almofada, um brinquedinho qualquer, o roçar de uma perna na outra, etc., etc., etc.); enfim, deve haver fricção de algo com a parte externa e superior da vagina, e não apenas penetração, entenderam?!


E é aqui que pergunto: e vocês, como sentem?


A questão parece batida mas, pelo que percebo, as duas vias de solução mais comuns parecem ser:
a) ou se afirma a existência do gozo com penetração (e os defensores dessa "via" tanto podem ser sexólogos, psicólogos, médicos, e qualquer "suposto saber" munido de pesquisas e comprovações anatômicas ou biológicas, como essa aqui http://chapado.wordpress.com/2008/02/25/cientistas-dizem-ter-comprovado-existencia-do-ponto-g/; quanto podem ser homens "comuns", pois - e aqui posso correr o risco de ser preconceituosa ou feminista de merda - parece mesmo ser mais fácil e cômodo acreditar nisso, já que a penetração levando ao gozo os "livra" de maiores "esforços", por assim dizer, e delimita o ato sexual para a mulher aos limites do ato sexual tal como é melhor para o homem, isto é, tudo fica limitado ao caminho banal "preliminares/penetração/ejaculação"; quanto podem ser algumas poucas mulheres que, vou ser sincera, não sei se de fato sentem o que dizem ou apenas dizem que sentem);

b) ou se nega a existência do gozo com penetração (e os defensores dessa "via" tanto podem ser as "feministas" e seus discursos políticos de "opressão masculina" - com os quais, devo confessar, concordo na maioria das vezes - quanto podem ser os mesmos sexólogos, psicólogos, médicos menciondos acima).

Há ainda aqueles que afirmam que cada mulher tem uma anatomia própria, e assim algumas de fato teriam na cavidade vaginal algumas terminações nervosas que coincidiriam com a "base" do clitóris, que estaria localizada no interior da vagina, 2 ou 3 centímetros de sua entrada (seria este o tal "ponto g"?!), daí que a penetração que levaria ao gozo seria não aquela profunda e de curta duração, mas aquela que se "dedica" à entrada da vagina, feita de modo lento e ritmado, de modo a permitir a fricção da tal "área". Além disso, e na verdade junto com isso, alguns afirmam que o "truque" todo para alcançar o tal "ponto g" estaria no formato do pênis, e assim aqueles cujos membros fossem, digamos, mais grossos do que grandes, quem sabe com um formato semelhante a um "arco", e com a "cabeça" mais gordinha do que o corpo teriam mais condições de levar " a parceira ao ápice" (ok, aqui fui muito revista nova/marieclaire, mas foi proposital). Uma coisa curiosa é que, se de fato a penetração (com um pênis ou um objeto qualquer) fosse determinante para o orgasmo da mulher... o que seria de nós ao usar absorventes internos?! Imagina, ter orgasmos eternos durante todo o tempo de permanência de um o.b. ou um tampax?! Será que ninguém lembra que temos terminações nervosas apenas no primeiro terço da vagina, nos tais 2 ou 3 centímetros da entrada, e mesmo assim terminações nervosas em quantidade bem menor do que aquelas do clitóris?!

Dessa coisa toda, o que quero dizer é: tenho medo desse papo todo de "gozo com penetração" ser uma forma moralista de limitar o prazer da mulher ao que seria mais adequado ao homem (isto é, à penetração pura e simples), ou mesmo de qualificar o orgasmo mais comum à mulher (eu quase ia dizer "o orgasmo próprio da mulher", mas vou esperar os posíveis comentários e depoimentos, que podem provar que estou errada), o orgasmo clitoriano, como algo inferior, diminuto diante do "verdadeiro" orgasmo, o vaginal ("obrigada", sr. Freud, pois essa visão é toda culpa sua), que só seria atingido por mulheres "emancipadas", "de bem com o próprio corpo e com a própria sexualidade" (de novo, dá-lhe discurso da nova e da marieclaire), pelas "verdadeiras fêmeas" (idem, idem, idem!). Disso derivam as visões equivocadas sobre a relação sexual entre mulheres: "não estaria faltando nada aí?", ou "isso é falta de quem as pegue de jeito", ou ainda "ô falta que uma rôla faz...". Mas, engraçado, nunca, nunca, nunquinha ouvi ninguém dizer, se referindo ao sexo entre os homens: "mas não está faltando nada ali (uma buceta, no caso)?". O que parece acontecer é que, se há penetração... ahhh, ok, isso sim é sexo, aí sim está o orgasmo, o gozo propriamente dito.

Além disso, tenho medo de ficar com a eterna sensação de que "há algo que não experimentei", de que existe um pote dourado no fim do arco-íris que nunca vou alcançar... Não que isso me cause angústia demasiada, ou que me impeça de ter os meus orgasmos (o que devo em grande parte ao conhecimento que tenho do meu próprio corpo, graças à minha curiosidade insana que começou na mais tenra infância, e em grande parte também à intimidade que alcancei com meu namorado - e com outros, mas não vou ficar falando aqui pra não dar margem pra ciuminhos bobos!), mas vez por outra me deparo com essa visão tacanha a respeito da sexualidade feminina, e receio que essa visão possa causar danos irreparáveis não só a mim mas às minhas "hermanitas" de gênero...

Bom, é isso. Seria bom se alguns comentários aparecessem, se alguns depoimentos e relatos surgissem... Vou ficar aqui aguardando. E um dia quem sabe conto minha história de amor com o "sr. dedinhos mágicos"...

E, pra quem quiser, abaixo estão alguns links com perspectivas as mais variadas possíveis, e, ao final, três pérolas: um texto da historiadora feminista Margareth Rago sobre o assunto e dois links para o blog nãodoisnãou - no primeiro há uma série de entrevistas com homens e mulheres ("mulheres por elas mesmas" e "homens sem segredos"), e vale checar a resposta dada por elas à questão número 7, "O que faz você gozar? Fale sobre posições, fantasias, pegadas, jeitos, toques e andamentos.", e no segundo um post sobre a suposta diferença entre orgasmo vaginal e orgasmo clitoriano, e vale, muito, mais ainda que o texto em si, checar os comentários postados por inúmeros homens e mulheres sobre o assunto, cada um falando uma coisa diferente da outra!

Texto de Margareth Rago:
Links para as entrevistas e para o post de nãodoisnãoum:
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4 comentários:

Anônimo disse...

Não tiraria uma vírgula do que escreveu, minha cara. Entretanto, acho que vc nem deu oportunidade a que ninguém comentasse.
Falou e disse tudo.
:)

Ginger disse...

Um comentário até agora, e de um rapaz (imagino que seja, pelo "apelido"), que curioso!

Anônimo disse...

Vc escreve, uau... como tem tempo? vai lá no meu blog, é beeeem mais sintético.
www.janelaparapraca.blogspot.com
bjs

Ginger disse...

Apesar de parecer muito, sai meio de uma tacada só, o que toma tempo é revisar o português, os detalhes, etc.!