quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Abracadabra...


"For last years words belong to last years langua
ge
and next years words await another voice.
And to make an end is to make a beginning."
T. S. Eliot




(Palavras do ano que se passou pertencem à linguagem do ano que se passou
e palavras do ano que chega esperam por uma outra voz.
E finalizar significa iniciar.)

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sábado, 19 de junho de 2010

As músicas que eu (felizmente) cantei...


Em fins de dezembro de 2008 (nesse post aqui http://gingerxxx.blogspot.com/2008/12/msica-que-eu-no-quero-ter-que-cantar.html), 6 meses antes de muita coisa acontecer, e 18 meses depois de muita coisa já estar acontecendo, eu não queria ter que cantar uma música que dizia assim:

"É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte
(...)
Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz"
(Vanessa da Matta)

Mas, enfim, eu cantei, há exatos 365 dias... Depois de tanta dor, tanta tentativa, tanta vontade, tanta tristeza, tanta mágoa, eu cantei. E esses dias me lembrei dessa outra aqui, que serve tanto pra fechar aquele ciclo, um ciclo que eu não sei bem nem porquê, e nem se, deveria ter sido começado:

"I'm leaving you for the last time, baby
You think you're loving but you don't love me
(...)
I want to be free; baby, you've hurt me.
(...)
All the days spent together
I wished for better,
But I didn't want the train to come
Now it's departed - I'm broken hearted,
Seems like we never started"
(Duffy)

Às vezes me parece que aqueles foram 24 meses perdidos, em que eu me perdi (pior, em que eu me deixei perder)... "Todos estes dias passados juntos, em que eu esperava pelo melhor"...

E, depois de tanto, tenho agora 365 novos dias, em que eu me perco, e me encontro, e me perco de novo, mas de novo me encontro. Mas, nisso tudo, nessas perdas e nesses encontros, eu me perco e me encontro em você, com você, e por você. E por mim. A cada dia. Um dia após o outro.

(QUE) FELIZ ANO PRA NÓS, MEU AMOR.
E (QUE) FELIZ UM NOVO ANO PRA MIM.

...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meu triângulo amoroso agora é filme!


Mas que delícia!
Eu sabia!
Claro, lógico, e ainda bem!
Julie&Julia, um dos livros mais lindos que já li (http://gingerxxx.blogspot.com/2008/07/julie-e-julia.html), agora é filme!
Como disse Julie, sobre a sopa de Julia... acho que esse filme vai me deixar vulnerável...
O trailer está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=8oTTMRDUfGA

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Há exatos 365 dias atrás...



Há tempos eu tenho que mudar umas muitas coisas deste post aqui, e só agora me dei conta de que lá se foi apenas um mísero ano desde então:
http://gingerxxx.blogspot.com/2008/06/eu-j.html

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dessas coisas que a gente não explica...


Mas, veja só, bem no dia do meu aniversário, 17/02, a postagem do blog Bistrô Pimenta (da jornalista e crítica de gastronomia Luciana Lancellotti, "nossa" Ruth Reichl!), exatamente sobre a Toscana...
Logo no meu dia, um dos meus blogs preferidos, apresenta o meu lugar preferido no mundo, me mandando "morar na Toscana"...
Vai entender as coincidências da vida...
http://bistropimenta.blogspot.com/2009/02/morar-na-toscana.html

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Mmmmm: o conforto em Ruth Reichl

Depois de uma passagem de ano turbulenta, com Natal, Ano Novo e parte das férias inesperadamente passados num hospital, e com perspectivas de mudança, em todos os sentidos, me deixando sem lugar, sem tempo, sem saber e sem ser muito bem aquilo que eu gostaria de ser, encontrei o conforto de que tanto precisava em Ruth Reichl. Há muito tempo atrás, havia lido uma matéria sobre um livro, de uma crítica de gastronomia, no qual ela relatava suas aventuras para se passar despercebida nas visitas aos restaurantes "vítimas" de suas avaliações no New York Times. Na época, como não achei o livro pra comprar em lugar algum, deixei de lado a procura e a vida passou, trazendo outras histórias e outros autores. Então, logo antes do início da minha "estadia hospitalar" (e este é o momento em que penso se tudo na vida é fruto do acaso mesmo, ou...), resolvi perguntar pro livreiro, mais uma vez, da existência do tal livro; não o encontramos, mas durante a conversa nos lembramos do nome da autora, Ruth Reichl, e num lampejo me veio à mente que já tinha um livro dela, não aquele que procurava (Alho e Safiras: a vida secreta de uma crítica de gastronomia disfarçada), mas outro, Conforte-me com maçãs: amor, aventura e prazeres da mesa, que tinha adquirido num dos meus acessos de descontrole nas seções de gastronomia e culinária das livrarias (o descontrole em questão foi na Livraria Cultura da Av. Paulista, em São Paulo, lugar que pretendo adquirir quando ganhar na mega-sena, ou pelo menos saquear, para manter o controle das minhas finanças caso a sorte não assopre seus ventos em minha direção - o que provavelmente não vai acontecer já que eu nunca me lembro de fazer a tal fezinha nas lotéricas), após os quais sempre saio com mais livros do que um ser humano normal conseguiria ler, e sempre há aqueles que ficam "pra depois", como aconteceu com Conforte-me com maçãs. Chegando em casa neste mesmo dia, separei o livro para ser o próximo da fila (estava terminando O pedante na cozinha, de Julian Barnes, que estava me deixando profundamente decepcionada e consequentemente chateada; como o próprio nome diz, um livro pedante de um cara pedante, com textos pedantes que não levam a lugar algum, não emocionam, não inspiram, nem ao menos fazem rir, e se me pedirem pra contar uma das várias histórias do livro é capaz de não me lembrar de nenhuma delas...), mas aí as intempéries da vida fizeram com que tudo fosse interrompido. Voltando pra casa uns 20 dias mais tarde, com pontos a mais e uma vesícula a menos (detalhe curioso: levei pro hospital as edições de dezembro da Gula, da Food and Wine e O pedante, e namorado/marido dizia que "não faz sentido ler sobre comida em hospital, quando seu problema - a vesícula - vai te impedir de comer!"; mas deixa pra lá, quase ninguém entende o que significa ler sobre comida, e como é possível quase "comer" o que se está lendo...), fui pra casa da minha mãe me recuperar, e iniciei uma saga de readaptação do corpo, com dieta restritiva daquelas em que a lista de "não pode" é infinitamente superior e mais saborosa do que seu exato oposto, e me vi limitada ao minguado "pode" de algumas frutas, alguns legumes, pão integral, carne magra e queijo cottage. Então, ler as aventuras de cama, mesa e banho de Ruth Reichl me confortou de tal forma que passava as horas do dia deitada, lendo, e só. Em menos de duas semanas acabava Conforte-me com maçãs, tempo suficiente para o livreiro me conseguir Alho e safiras e pra eu poder sair da cama e ir buscá-lo. Se em Conforte-me Ruth contava o início de sua carreira, de cozinheira voluntária em uma comunidade hippie e escritora free-lance à crítica de gastronomia do Los Angeles Times, e de sua vida "adulta", de namorada "livre" do artista plástico Doug à esposa de um charmoso e inteligente jornalista (sim, eu me apaixonei por ele assim como ela...), Michael, passando pelos casos extra-conjugais da época do namoro com Doug, por sua gravidez, aos 41 anos, após o casamento com Michael, pela morte dos pais, as primeiras viagens "educativas" para restaurantes da Europa e Ásia, tudo isso recheado de receitas, muitas receitas, em Alho e safiras a etapa seguinte é narrada (e, de novo, estou seriamente acreditando que não há acasos que justifiquem esta sequencia tão imprevista mas ordenada de contato com os dois livros): rumo ao New York Times, já nacionalmente famosa e "procurada" - os restaurantes de NY espalharam sua foto e seus gostos culinários pelas cozinhas e aos empregados, na certeza de a identificarem e a agradarem, e de conseguirem as almejadas 3 estrelas. Então, chegaram até mim uma infindável sucessão de mais aventuras, através de 6 mulheres criadas por ela para se disfarçar e testar, de fato, e sem nunca ter sido descoberta, como os meros mortais eram tratados pelos estabelecimentos da cidade: a primeira de todas, Molly, uma educada dona-de-casa suburbana, a louca, destemida e calorosa Brenda (criatura pela qual Michael se apaixona, para surpresa da própria criadora Ruth, e que ganha o afeto instantâneo de seu filho Nicky), a subserviente, idosa, solteirona e solitária Betty, a socialite, decoradora e recém-divorciada, trocada por uma jovenzinha, Chloe, (na pele desta, a autora se permitiu sair em uma série de encontros para jantar com outro homem, sempre com a permissão de Michael, e se permitiu seduzir e ser cortejada), a elegante porém desbocada Miriam, tão semelhante à sua própria mãe que enganava até os antigos amigos de família, e a ranzinza e mau-humorada Emily (na foto ao lado, numa rara aparição de Ruth "travestida" em uma de suas personagens), que permitiu à autora ver que seus desfarces a estavam fazendo esquecer dela mesma. Ao longo da saga, nos deparamos com as histórias da redação do NYTimes, os encontros da autora com os foodies (os arrogantes e ricos conhecedores de "enogastronomia", tão vazios em si mesmos quanto preenchidos com conhecimentos estéreis fruto de viagens ao redor do mundo), e alguns daqueles que seriam anos depois (no início deste século, pois o livro remonta à década de 90) os grandes chefs-celebridades da cidade, como Rocco DiSpirito (alguém se lembra do reality-show que a Sony exibiu há dois anos, que retratava os desastres da abertura de seu novo restaurante, pontuados com a prepotência e vaidade do novo "astro" da gastronomia americana?!; que ironia: no livro Ruth quase ter orgasmos com os pratos de DiSpirito, e o considera um gênio...) e Mario Batalli (no livro um chef ainda "sem-nome", sendo que apenas podemos ver que é ele pois Ruth relata as visitas a seu restaurante Babbo), passando pela sua paixão pelas "buracos" coreanos, japoneses e chineses, segundo ela os autênticos restaurantes orientais da cidade. Tudo isso, à maneira de Conforte-me, servido acompanhado de tantas receitas, além das críticas originais publicadas pelo Times. Ao fim, após a morte de Carol, sua melhor amiga na redação do jornal e companheira de aventuras gastronômicas, e uma crise "existencial" após tantos disfarces, Ruth recebe, na última página, um telefonema da revista Gourmet, na qual trabalha até hoje como editora (revista que coleciono mas, pasmem, nunca tinha percebido ser ela a tal autora dos livros que procurava) . Então, foi assim, que Ruth vem construindo um menu especialmente pra mim... Tive a as maçãs de entrada, o alho e as safiras como prato principal, agora só me falta aguardar a sobremesa, que chegará assim que o livreiro trouxer A parte mais tenra (na verdade, este deveria ser o amuse-bouche, o aperitivo, pois as histórias aqui vão da infância de Ruth até sua vida de cozinheira hippie, mas tudo bem, o acaso nem sempre é perfeito, mas como nada é mais doce que a infância...). Além desses, fico sempre me deleitando com as colunas dela na Gourmet, além do lindo site que ela mantém com receitas, comentários, vídeos e outras delícias (www.ruthreichl.com). De resto, só me cabe torcer para conseguir o último livro dela, este sim um livro de receitas, suas receitas de família, intitulado graciosamente de Mmmmm: A Feastiary by Ruth Reichl e também graciosamente oferecido quase todo na íntegra e online no site e esperar o tempo e o bolso pra enfrentar a leitura dos outros 18 livros editados e/ou prefaciados por ela e ainda não publicados em português, com a certeza de que se tem sua assinatura só pode ser coisa boa.
Abaixo, a última receita que ela apresenta em Alho e Safiras - cuja leitura acabo de finalizar há exatos 47 minutos (momento em que pulei da cama e tive que vir aqui registrar minha felicidade em ser "amiga" de Ruth!) -, excelente pra um fim de tarde de domingo em pleno carnaval calmo e preguiçoso em Belo Horizonte:

Bolo de chocolate de última hora
(Este bolo apenas pede uma concha de sorvete de baunilha em cada fatia.)

115 g de chocolate amargo de boa qualidade
1/2 pacote (6 colheres de sopa) de manteiga sem sal
1/2 xícara de café preto forte moído
2 colheres de sopa de licor Grand Marnier (dica minha: ou qualquer outro licor de laranja, ou mesmo Cointreau)
1/4 xícara de açúcar
1 ovo
1 colher de chá de essência de baunilha
1 xícara de farinha
1/2 colher de chá de fermento em pó
1/4 colher de chá de sal

Preaqueça o forno a 150 graus. Unte e polvilhe com farinha uma assadeira de 22 x 12 cm. Misture o chocolate, a manteiga e o café em banho-maria ou numa panela bem pesada e mexa constantemente em fogo baixo até que derreta. Deixe a mistura esfriar por 15 minutos. Depois acrescente o Grand Marnier, o açúcar, o ovo e a baunilha. Mexa bem. Misture a farinha, o fermento e o sal e junte à mistura de chocolate. Derrame a mistura na assadeira já preparada e asse por 30 a 40 minutos, ou até que um palito inserido no centro retorne limpo.

Mmmmm... delícia!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Homenagem particular ao espírito de Natal...

"Quando paro que olho as horas
Para o tempo que me olha
E espero ansiosa
Vou comendo a casa
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros"
(Vanessa da Mata)









A música que eu não quero ter que cantar


Boa sorte
(Vanessa da Mata)

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte

Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

(Imagem: "Nunca verás mi rosto", de Cristina Lucas)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ninho.

Com algumas fotos inspiradoras retiradas do blog De(coeur)ação - vejam na lista de links à esquerda - montei minha casa perfeita.
Como diz Patrícia Antoniete (nesse texto aqui: http://www.revistaparadoxo.com/materia.php?ido=5890), "Casa são muitas coisas, mas casa é principalmente onde a gente pode ser a gente mesmo e onde não temos medo"...













domingo, 7 de setembro de 2008

Para meu querido chef (há muito eu estava te devendo isso).

Anthony Bourdain… Qualquer coisa sobre ele, ou dele. Pode mandar, que eu degusto feliz, com a certeza de que é coisa boa. É claro, e infelizmente, meu apetite quando se trata dele se resume ao papel, já que nunca pude (quem sabe um dia...) comer algum alimento que ele tivesse preparado de fato, só mesmo suas palavras. Mas, e daí, não é? Não preciso ter comido nada de um chef pra ser fã dele, descabidamente fã dele, apaixonadamente fã dele, cegamente fã dele (sim, eu acho que até comeria ele, o próprio).

A primeira vez que ouvi falar de Tony, “meu amigo”, foi quando, há alguns anos atrás, adquiri dois dos seus muitos livros. Primeiro, um de seus romances, Cozinha confidencial, em que ele oferece uma memória de seus anos como chef, desde as primeiras experiências com comida, na infância, nas viagens que fazia à França com os pais, passando pela formação em gastronomia na juventude, no Culinary Institute of America, recheada de sexo, drogas e rock n´roll (a tríade sempre presente na consolidação da personalidade de alguém que se preze e que vai um dia fazer alguma coisa interessante no mundo, desde que em doses moderadas, claro – não, isso de moderado vale só pras drogas, pensando melhor), as experiências, a maioria frustrada, em diversos restaurantes pelo país, desde os mais ordinários bufês, passando pelas previsíveis cozinhas de hotel, pelas mil espeluncas fadadas ao fracasso, até chegar ao Les Halles, a brasserie em que ele está até hoje – de alma, na verdade, já que não comanda a cozinha presencialmente há uns oito anos – e que ele mesmo considera a melhor do mundo (amo esta certa arrogância despretensiosa que os melhores, e que sabem que são os melhores, têm...), e que serve a clássica culinária francesa, nada de nouvelle cuisine, mas a velha escola: coq au vin, poulet rôti, gratin dauphinois, vichyssoise, boeuf bourguignon, cassoulet, steak su poivre, steak tartare, tournedos rossini, bouillabaisse. Uma semana depois, comprei seu único livro de receitas, Afinal, as receitas do Les Halles: histórias, táticas e técnicas, com as principais entre aquelas que constam ou já constaram no menu do restaurante, algumas já mencionadas acima, além de dicas e orientações recheadas daquilo que Tony tem de melhor: talento, ironia, muita ironia, uma dose generosa de sarcasmo e desprezo pelo mundo e pelos outros (é só fachada, mas que cai bem pra ele), e uma presença de espírito que eu nunca vi igual – uma exemplo clássico é quando ele, mesmo sabendo que está falando pra cozinheiros amadores, destila a pérola: “Não se estranhe, se, às vezes, eu me dirigir a você, leitor, chamando-o de ‘idiota’. Espero sua compreensão e não quero que isso seja levado para o plano pessoal. Saiba que, se você não largar o livro, se estiver disposto a fazer um bom trabalho e tiver um pouco de amor e respeito pela comida, eu depois lhe pagarei uma cerveja no bar”.

Depois, totalmente apaixonada, saí correndo atrás do pouco dele que está disponível no Brasil: Maus Bocados e Em busca do prato perfeito – há muitos outros livros, como No Reservations e A cook´s tour, que são o relato de algumas de suas experiências nas viagens que fez para os seus programas no Travel Channel e que têm o mesmo nome dos dois livros, e os romances sem nenhuma ligação com culinária, como Typhoid Mary: An Urban Historical, Bone in the Throat, Gone Bamboo e Bobby Gold, além dos inúmeros artigos e crônicas para jornais e revistas como New York Times, The New Yorker, Gourmet, The Independent, Financial Times, Town&Country, etc.


Mas, e então, o que me atrai tão desmedidamente em Tony? Bem, sem dúvida, a prosa dele, que já me fez chorar e rir, e não foram poucas as vezes; mas, na verdade, além da forma, o conteúdo: suas histórias de vida, seu amor pela comida, mais do que pela culinária ou gastronomia – e imagino mesmo o desdém na cara dele ao pronunciar estas duas palavrinhas tão “mágicas” hoje em dia mas também tão esnobes –, a cultura absurda que ele possui, sobre música, sobre literatura, sobre cinema, sobre o mundo, a forma como ele vê a vida, a si mesmo, e aos outros... O amor dele pelos outros é mais desmedido do que o meu por ele, e é emocionante ler as palavras que ele dedica àqueles a quem ele admira, e como ele o faz sem pieguices e romantismo tolo – sua mulher, seus amigos chefs, os grandes chefs que não foram seus amigos, os cozinheiros mexicanos, porto-riquenhos, cubanos, o verdureiro, o pescador de ostras, o cara da lava-louças, as chefs mulheres, por quem ele nutre uma paixão especial, as mulheres em geral, José, o dono do Les Halles, as bandas punk nova-iorquinas dos 70 e 80... enfim, pra quem for gente boa e estiver fazendo coisa honesta, Tony será o primeiro a dar o crédito. Além disso tudo, o filho-da-puta ainda consegue, nos seus 52 anos, ser descolado e charmoso pra cacete! E eu me casei muito com ele um dia desses aí, e tivemos uma lua-de-mel incrível, embora ele não tenha sabido disso (foi depois que ele se separou de Nancy, sua primeira mulher, mas já nos separamos também, sabe como é, bebe muito, é meio desmedido pra tudo, é mulherengo, e essa coisa das viagens, esposa nenhuma agüenta muito isso, e aí... mas ele está bem agora, se casou de novo com Octavia e tem até uma filhinha de um ano que adora azeitonas, polenta e vinho tinto!).

Pra quem quiser degustar um pouco do meu chef preferido, há na lista de links da abertura desse blog o endereço para o blog dele, e há milhões de vídeos dos seus programas no youtube. A propósito, a caveira acima é a insígnia que está bordada no jaleco de chef do Tony: cozinhe livre ou morra. Não preciso dizer mais nada...

domingo, 13 de julho de 2008

Mamma mia! - parte 3: Emilia-Romagna


Continuando... Logo acima da Toscana, há a Emilia-Romagna, que é considerada pelos próprios italianos como o ápice culinário de todo o país, sendo de lá pratos tradicionalíssimos como lassagne alla bolognese e tortellini in brodo, vários tipos de ragú, além dos conhecidos parmigiano reggiano, prosciutto di Parma, cotecchino, mortadella e zabaglione. Uma curiosidade da região é o fato dos locais reduzirem o azeite ao máximo e preferirem o uso da manteiga! Abaixo uma receita simples, versátil e tradicional, típica dos trabalhadores pobres, por ser barata e substanciosa, o brodo, uma espécie de caldo, que é servido com vários tipos de massa, de preferência curta (perceberam o "cheirinho" de sopinha leve de mãe?!):

alho-poró em rodelas finas (ou cebola e alho, na falta dele)
300gr de carne de boi moída, como músculo (ou carne de frango)
1 litro de caldo de legumes (ou água, na falta dele)
1 cenoura picada grosseiramente (atenção, o brodo é um caldo leve e que deve ficar quase transparente, então não é o propósito deixar a cenoura cozinhar até amolecer, como em uma sopa cremosa, e por isso é preferível que os pedaços sejam grandes)
outros vegetais (ainda mais no caso do brodo ser "vegetariano"; use por exemplo abobrinha, mas a parte mais durinha, da casca, pra não tornar o caldo cremoso, e também salsão, mas cuidado pra não virar sopa de legumes!)
temperos diversos, como louro, salsinha, etc. (ainda mais no caso de usar água somente), vai depender do seu gosto e inspiração
azeite, sal e pimenta do reino moída
queijo parmesão de boa qualidade (ou melhor: um parmigiano reggiano!)

Doure o alho-poró (ou o alho e a cebola)
Refogue a carne e logo depois os legumes (ou só os legumes se for o caso)
Adicione os temperos, o sal e a pimenta
Coloque o caldo e deixe ferver por uma hora
Caso queira um caldo translúcido, deve-se coá-lo (caso queira muito translúcido mesmo, da maneira tradicional, como na foto, é necessário, além de coar, voltar a ferver e adicionar uma clara de ovo, que ao cozinhar vai agregar em si as impurezas restantes; daí, deve-se retirar cuidadosamente a clara até o caldo ficar transparente)
Caso queira deixar do jeito que está, sugiro então que não use a carne e corte os legumes em julienne, em tiras bem fininhas, para o aspecto ficar bonito
*dica: geralmente o brodo é servido com alguma massa curta e de preferência recheada, como capeletti, que é a forma mais tradicional, e esteja atento para colocar a massa no caldo para que ela cozinhe, una 10 minutos antes de servir

Bom apetite!
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Mamma mia! - parte 2: Sicília

Antes de mais nada: este post é continuação da parte 1, sobre a Toscana.
A região escolhida para hoje é a famosa ilha da Sicília, que na imagem que fiz seria a bola que a bota está chutando (eu sei, é bizarro, mas funciona), e que merece ser visitada pelo seu litoral (apesar da vasta região interiorana). Nela, a influência da cultura dos mouros é marcante, tanto na arquitetura quanto na culinária. Nas osterias são servidos pratos à base de peixes e frutos do mar (a sardinha, um peixinho tão desprezado por nós, é queridíssima na culinária siciliana), e os famosos antipasti, com berinjela, abobrinha, pimentões, tomates, alcachofras, azeitonas, o cuzcuz (pela influência marroquina), muito azeite e aceto basamico, queijo de cabra e ovelha (dos poucos animais a se adaptarem ao clima árido e seco do sul da Itália), como o pecorino e, claro, massas variadas e gnocchi, mas feitos de forma leve e fresca. Abaixo uma das receitas mais clássicas e fáceis da região, a caponata, uma espécie de "ensopado" de vegetais que é servido como antipasto, pois parece muito uma conserva:

1 cebola grande picada
3 a 4 talos de aipo (salsão) picados
1 kg de berinjela cortada em pedaços de 2 a 3 cm
1 colher de alcaparras em conserva, deixadas de molho por 10 minutos e escorridas
20 azeitonas verdes e pretas sem caroço
1 colher de sopa de açúcar
1 colher de sopa de vinhagre de vinho branco

50 gr de massa de extrato de tomate ou molho concentrado
azeite (uma dose generosa, de 6 a 8 colheres de sopa cheias), sal, pimenta do reino e ervas (por exemplo, manjericão e alecrim)

Doure a cebola e o aipo, junte a berinjela (como é muita berinjela, use uma panela grande) e deixe dourar (atenção: a berinjela demora a dourar, pois primeiro ela absorve todo o azeite e só depois começa a soltá-lo e dourar de fato, o que leva mais de 10 minutos)
Adicione as azeitonas, as alcaparras o extrato de tomate, o açúcar, o vinagre, o sal e a pimenta e deixe refogar por 15 minutos
Decorre com as ervas frescas e sirva
Dica: acrescente também um pouco de amêndoas (muito populares na Sicília), ou pinolis e até pistache!
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sábado, 12 de julho de 2008

Mamma mia! - parte 1: Toscana


Quase como um exercício de estudo, vou reproduzir aqui o que estou aprendendo em um dos links do site oficial do chef Mario Batali (um americano de origem italiana, famoso pelo resgate das tradições de seu país de origem, ganhador de vários prêmios, apresentador de programas de tv e dono de nada mais nada menos que 14 restaurantes, entre eles o Babbo; quem quiser saber mais sobre Mario e seu estilo único pode ler o maravilhoso livro Calor, de Bill Buford), em que ele oferece um completo mapa das regiões da Itália com informações da cultura e culinária de cada uma delas, e no lindo livro Larrousse da Cozinha Italiana, que tem inúmeras receitas de pratos clássicos da culinária deste país. Acima, uma foto de Mario, que é uma figura, e da capa do Larousse.

Vou começar pela minha região preferida, a Toscana, situada no noroeste da Itália (pensando no país como uma "bota" de cano longo chutando uma bola, a Toscana ficaria entre a parte da frente do tornozelo e a boca da bota), local conhecido não só pela famosa Florença, mas também pela vida rural, pelas fazendas e vinícolas tradicionais. A culinária desta região é muito simples, marcada pelos hábitos e necessidades dos trabalhadores rurais e pela tradição dos açougueiros e produtores de embutidos. Nas trattorias e nas casas das famílias são servidos pappardelle e pici (um tipo local de spaghetti curto) com ragús variados, especialmente o de coelho e porco, as zuppa (sopas), por exemplo as de cavolo nero (um tipo de repolho que mais parece uma couve crespa), muita polenta, além de salami e outros embutidos feitos localmente.

Abaixo uma receita clássica de ragú, chamada por mim de Ragú à minha moda, muito presente no cardápio daqui de casa; atenção para a dica: o ragú é um molho que deve ficar "cremoso", encorpado e rico, e que se caracteriza pelo cozimento lento.

250gr de músculo de boi (o ragú pode ser feito com várias carnes, como coelho, cordeiro, pernil de vitela, ossobuco, etc., mas o músculo de boi é fácil de achar, além de baratinho e apetitoso; nunca use filé, que por ser uma carne superior cozinha rápido demais)
150 gr de pancetta (uma espécie de bacon italiano, mas pode usar bacon comum mesmo, ou até presunto cru)
1 cenoura grande cortada em cubos
1 cebola grande cortada em cubinhos
5 a 6 tomates grandes fatiados, sem pele e sem sementes
250 ml de caldo de legumes (seria ótimo se fosse caldo de legumes preparado em casa, mas na falta dele apele para água apenas, e seja generoso nos temperos pra compensar)
200 ml de vinho tinto (de boa qualidade, o mesmo que será bebido com a comida)
azeite, sal e pimenta do reino moída na hora
ervas e temperos a gosto (aí é o toque pessoal de cada cozinheiro, mas sugiro alecrim, tomilho e louro, por exemplo)
*opcional: se quiser usar uns 50 gr de funghi secchi, hidratado em água antes de usar, dá um sabor muito peculiar ao ragú!

Doure a cebola no azeite, acrescente a carne, deixe dourar, e acrescente as cenouras
Assim que começar a "grudar" (é isso que dá a "cremosidade" e o sabor do prato), acrescente o vinho
Tempere com sal, pimenta, as ervas e jogue o caldo de legumes
Deixe cozinhar por no mínimo 1 hora (este é o truque: a carne deve ser cozida lentamente, para praticamente desfiar; na falta de tempo, use panela de pressão - uma heresia para os mais puristas - ou faça o ragú com carne moída - heresia de novo, vou arder nas chamas do inferno eternamente agora...); se possível, faça o ragú no dia anterior, fica mais encorpado ainda
Sirva com massa, de preferência fresca, com polenta ou com nhoque; pra ficar com cara de "domingo de mãe", experimente servir com bucatini, uma massa que parece um tubinho bem fino e longo (um spaghetti com furo), aqui popularmente e injustamente conhecida como "macarrão de cachorro"

Bom apetite!
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Drinks!

Minhas receitas preferidas de drinks clássicos e reconfortantes, todas muito fáceis de fazer (pois ninguém quer ter muito trabalho quando se está numa festa, não é?) e que reúnem algumas das minhas coisas favoritas na vida (vinho, rum, limão e açúcar, além de amor, sexo, cultura e culinária, claro), retiradas de um maravilhoso livrinho chamado Classic & contemporary cocktails: the essentials collection, de Linda Doeser, começando pela minha preferida, Margarita!

Margarita
Drink inventado em 1942, no México, com o intuito de ser uma forma mais "civilizada" de beber tequila (que deve ser bebida tradicionalmente da seguinte maneira: polvilhe sal no dorso da mão, lamba, chupe o limão e tome de uma vez só um "shot" de tequila)
4 a 6 pedras de gelo quebradas
3 medidas de tequila
2 medidas de suco de limão
1 medida de rum
rodela de limão e sal para decorar a borda da taça

Cuba Libre
"Long drink" muito popular nas décadas de 60 e 70
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 medidas de rum branco
coca-cola até enher o copo
rodela de limão para decorar

Daiquiri
"Daiquiri" é o nome de uma cidade cubana, lar deste drink que foi criado diante da falta de gim no país e da abundância da bebida local, o rum
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 medidas de rum branco
3/4 de medida de suco de limão
1/2 colher de chá de xarope de açúcar
(para fazer este xarope, coloque 4 colheres de sopa de água e 4 colheres de sopa de açúcar refinado em uma panela e aqueça em fogo baixo até o açúcar dissolver; após esfriar, guarde em um recipente fechado por 2 semanas antes do uso)

Mudslide
Drink cremoso, especial para ser bebido em dias frios, cujo nome não é muito sedutor (algo como "lama escorregadia")...
4 a 6 pedras de gelo quebradas
1 medida e 1/2 de Kahlúa
1 medida e 1/2 de Bailey´s
1 medida e 1/2 de vodka

Bishop
Drink feito com uma pitadinha de vinho (não vale usar vinho vagabundo), especial para aqueles restinhos que sempre ficam nas garrafas; o nome é estranho ("bispo"), mas todos sabemos o quanto os clérigos são chegados nas boas coisas da vida...
4 a 6 pedras de gelo quebradas
2 espremidinhas de limão
2 medidas de rum branco
1 colher de sopa de vinho tinto
1 pitada de açúcar refinado



segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ohhh, yes, fuck me baby...

A grande questão é: dá pra gozar, de verdade, somente com penetração, isto é, sem a mínima manipulação clitoriana, sem o mínimo atrito entre o corpo do outro ou do nosso corpo e a região do clitóris?

Uma coisa é:

1) sentir um prazer imenso a partir da fricção do pênis na cavidade da vagina durante a penetração (eu quase ia escrever "durante o ato sexual", o que seria ridiculamente estúpido e moralista da minha parte, pois eu estaria reduzindo o "ato sexual" ao momento da penetração, e isto, toda mulher sabe principalmente, é de uma limitação torturante e machista), sensação esta que muito provavelmente pode durar infinitos minutos, enquanto a penetração durar - mesmo levando em conta que, em alguns casos, situações, momentos, dependendo do grau de intimidade com o parceiro, do grau de desejo sentido, que não depende diretamente do grau de intimidade, vejam bem, e até mesmo do momento pelo qual o corpo passa (em determinados momentos do ciclo biológico, por exemplo), o início da penetração pode ser mais ou menos dolorido, e, além disso, a penetração repetida por um longo tempo pode se tornar desconfortável e mesmo dolorosa.

Outra coisa é:

2) durante a penetração, com o auxílio da manipulação clitoriana, seja com as mãos, com a língua, com o quadril, o pé, o joelho - sei lá, qualquer parte do corpo ou de um objeto - sentir, além do prazer que advém da penetração, uma sensação intensa, localizada no clitóris inicialmente (pois no momento do ápice a sensação se torna difusa, embora ainda se dê pra perceber que o "epicentro" de tudo seja o clitóris e suas terminações nervosas), que se torna crescente até culminar em um "clímax", que dura em média de 5 a 10 segundos (aqui estou contando com a minha experiência e a de duas ou três amigas pras quais perguntei a duração de seus orgasmos, não por ser tímida ou pudica e ter receio em perguntar isso, mas pura e simplesmente por não ter tido oportunidade ou ter me esquecido de erguntar - ps.: não se esquecer da próxima vez, independente do nível etílico de todas nós, hehe); ou

3) sem a realização da penetração, e com a manipulação direta do clitóris, sentir a mesma coisa descrita em 2 acima.

Estas pra mim são as 3 opções existentes, e nas duas finais há, de fato, gozo, orgasmo, algo semelhante ao que os homens devem sentir quando gozam também, com a diferença que para eles há a explicitação desse momento, a ejaculação (estou excluindo aqui duas ocorrências que acredito sejam exceções: mulheres que ejaculam quando gozam e homens que dizem gozar sem ejacular).

Já conversei com muitas garotas, moças, mulheres, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, solteira, enroladas, casadas, monogâmicas ou polígamas, sobre isso e, tenho que confessar, apenas uma delas (sim, uma, de um total de umas 30) afirmou categoricamente gozar com a opção 1, isto é, apenas com penetração, sem a mínima manipulação, mesmo que indireta, do clitóris. Mesmo assim, há que se considerar que, lá pelas tantas, conversa vai, conversa vem, caímos num sem fim de argumentos sobre o que de fato seria gozar ou não, se haveria diferença orgasmo e gozo; ela disse algo como: "ahhh, peraí, você está chamando de gozo aquela sensação específica, que dura segundos e é bem localizada?; ah, então tá, porque eu chamo de gozar algo mais que isso, a coisa toda mesmo, aquela coisa de explodir, de querer meter até morrer, etc., etc., etc.", e por aí foi e tenho que confessar que a partir disso já não estava entendendo mais nada... Sobre as outras "fontes" da minha pesquisa informal, algumas eram lésbicas, algumas bissexuais, outras heterossexuais, mas todas elas foram semelhantes em seus depoimentos, que vai ao encontro da minha experiência, que vou relatar abaixo.

Pela minha experiência, já senti algo bem próximo do que estou chamando de "gozo em si" (descrito na opção 2 e na 3, isto é, a sensação fulgaz e crescente decorrente da manipulação direta ou indireta do clitóris) - ou orgasmo, não importa a palavra - com a penetração, seja vaginal ou mesmo anal (sim, colegas, e tenho que confessar que por mais de uma vez senti mesmo que estava mais perto de gozar quando era penetrada atrás do que na frente... quem nunca experimentou não sabe o que está perdendo, mas isso é assunto pra um outro post), mas, para mim, gozar de fato, ter um orgasmo, como já descrevi antes, demanda a manipulação direta ou indireta do clitóris ou mesmo da parte superior da vagina (seja com os dedos, com alguma parte do corpo do outro, com uma almofada, um brinquedinho qualquer, o roçar de uma perna na outra, etc., etc., etc.); enfim, deve haver fricção de algo com a parte externa e superior da vagina, e não apenas penetração, entenderam?!


E é aqui que pergunto: e vocês, como sentem?


A questão parece batida mas, pelo que percebo, as duas vias de solução mais comuns parecem ser:
a) ou se afirma a existência do gozo com penetração (e os defensores dessa "via" tanto podem ser sexólogos, psicólogos, médicos, e qualquer "suposto saber" munido de pesquisas e comprovações anatômicas ou biológicas, como essa aqui http://chapado.wordpress.com/2008/02/25/cientistas-dizem-ter-comprovado-existencia-do-ponto-g/; quanto podem ser homens "comuns", pois - e aqui posso correr o risco de ser preconceituosa ou feminista de merda - parece mesmo ser mais fácil e cômodo acreditar nisso, já que a penetração levando ao gozo os "livra" de maiores "esforços", por assim dizer, e delimita o ato sexual para a mulher aos limites do ato sexual tal como é melhor para o homem, isto é, tudo fica limitado ao caminho banal "preliminares/penetração/ejaculação"; quanto podem ser algumas poucas mulheres que, vou ser sincera, não sei se de fato sentem o que dizem ou apenas dizem que sentem);

b) ou se nega a existência do gozo com penetração (e os defensores dessa "via" tanto podem ser as "feministas" e seus discursos políticos de "opressão masculina" - com os quais, devo confessar, concordo na maioria das vezes - quanto podem ser os mesmos sexólogos, psicólogos, médicos menciondos acima).

Há ainda aqueles que afirmam que cada mulher tem uma anatomia própria, e assim algumas de fato teriam na cavidade vaginal algumas terminações nervosas que coincidiriam com a "base" do clitóris, que estaria localizada no interior da vagina, 2 ou 3 centímetros de sua entrada (seria este o tal "ponto g"?!), daí que a penetração que levaria ao gozo seria não aquela profunda e de curta duração, mas aquela que se "dedica" à entrada da vagina, feita de modo lento e ritmado, de modo a permitir a fricção da tal "área". Além disso, e na verdade junto com isso, alguns afirmam que o "truque" todo para alcançar o tal "ponto g" estaria no formato do pênis, e assim aqueles cujos membros fossem, digamos, mais grossos do que grandes, quem sabe com um formato semelhante a um "arco", e com a "cabeça" mais gordinha do que o corpo teriam mais condições de levar " a parceira ao ápice" (ok, aqui fui muito revista nova/marieclaire, mas foi proposital). Uma coisa curiosa é que, se de fato a penetração (com um pênis ou um objeto qualquer) fosse determinante para o orgasmo da mulher... o que seria de nós ao usar absorventes internos?! Imagina, ter orgasmos eternos durante todo o tempo de permanência de um o.b. ou um tampax?! Será que ninguém lembra que temos terminações nervosas apenas no primeiro terço da vagina, nos tais 2 ou 3 centímetros da entrada, e mesmo assim terminações nervosas em quantidade bem menor do que aquelas do clitóris?!

Dessa coisa toda, o que quero dizer é: tenho medo desse papo todo de "gozo com penetração" ser uma forma moralista de limitar o prazer da mulher ao que seria mais adequado ao homem (isto é, à penetração pura e simples), ou mesmo de qualificar o orgasmo mais comum à mulher (eu quase ia dizer "o orgasmo próprio da mulher", mas vou esperar os posíveis comentários e depoimentos, que podem provar que estou errada), o orgasmo clitoriano, como algo inferior, diminuto diante do "verdadeiro" orgasmo, o vaginal ("obrigada", sr. Freud, pois essa visão é toda culpa sua), que só seria atingido por mulheres "emancipadas", "de bem com o próprio corpo e com a própria sexualidade" (de novo, dá-lhe discurso da nova e da marieclaire), pelas "verdadeiras fêmeas" (idem, idem, idem!). Disso derivam as visões equivocadas sobre a relação sexual entre mulheres: "não estaria faltando nada aí?", ou "isso é falta de quem as pegue de jeito", ou ainda "ô falta que uma rôla faz...". Mas, engraçado, nunca, nunca, nunquinha ouvi ninguém dizer, se referindo ao sexo entre os homens: "mas não está faltando nada ali (uma buceta, no caso)?". O que parece acontecer é que, se há penetração... ahhh, ok, isso sim é sexo, aí sim está o orgasmo, o gozo propriamente dito.

Além disso, tenho medo de ficar com a eterna sensação de que "há algo que não experimentei", de que existe um pote dourado no fim do arco-íris que nunca vou alcançar... Não que isso me cause angústia demasiada, ou que me impeça de ter os meus orgasmos (o que devo em grande parte ao conhecimento que tenho do meu próprio corpo, graças à minha curiosidade insana que começou na mais tenra infância, e em grande parte também à intimidade que alcancei com meu namorado - e com outros, mas não vou ficar falando aqui pra não dar margem pra ciuminhos bobos!), mas vez por outra me deparo com essa visão tacanha a respeito da sexualidade feminina, e receio que essa visão possa causar danos irreparáveis não só a mim mas às minhas "hermanitas" de gênero...

Bom, é isso. Seria bom se alguns comentários aparecessem, se alguns depoimentos e relatos surgissem... Vou ficar aqui aguardando. E um dia quem sabe conto minha história de amor com o "sr. dedinhos mágicos"...

E, pra quem quiser, abaixo estão alguns links com perspectivas as mais variadas possíveis, e, ao final, três pérolas: um texto da historiadora feminista Margareth Rago sobre o assunto e dois links para o blog nãodoisnãou - no primeiro há uma série de entrevistas com homens e mulheres ("mulheres por elas mesmas" e "homens sem segredos"), e vale checar a resposta dada por elas à questão número 7, "O que faz você gozar? Fale sobre posições, fantasias, pegadas, jeitos, toques e andamentos.", e no segundo um post sobre a suposta diferença entre orgasmo vaginal e orgasmo clitoriano, e vale, muito, mais ainda que o texto em si, checar os comentários postados por inúmeros homens e mulheres sobre o assunto, cada um falando uma coisa diferente da outra!

Texto de Margareth Rago:
Links para as entrevistas e para o post de nãodoisnãoum:
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domingo, 6 de julho de 2008

Julie, Julia e eu


Me apaixonei perdidamente, quero abandonar tudo e viver meu triângulo amoroso...
Anteontem, enquanto fazia uma das coisas de que mais gosto, passear pelas estantes de livros de culinária em uma boa livraria, me deparei com algo que, magicamente, se casa de forma brilhante com várias coisas que estão passando pela minha vida agora...
Mas, tenho que confessar, foi um daqueles encontros em que, com uma ponta de inveja inofensiva, pensamos: "droga, como isso não me ocorreu antes?!" Estou falando do lindo livro Julie & Julia - 365 Dias, 524 Receitas e 1 Cozinha Apertada, escrito por Julie Powell. O truque todo é o "desafio" proposto por Julie, uma fracasada aspirante a atriz, com um casamento estagnado, saldo negativo no banco e uma cotidiano maçante como secretária freelancer (não, não são estes os motivos pelos quais o livro se casa com meu atual momento, ainda bem), que resolve se dedicar a uma empreitada curiosa: reproduzir em casa, em um ano, as receitas de um dos mais famosos livros de culinária americanos, Mastering the Art of French Cooking, de Julia Child. A senhora Child, já falecida, foi talvez a melhor amiga das housewifes daquele país, nas décadas de 40, 50, 60, tempo em que as amélias de outrora se dedicavam exclusivamente ao forno, ao fogão, aos filhos e ao marido (elas não eram amélias "emancipadas" como nós hoje em dia, que além disso ainda se dedicam ao trabalho, às contas, aos amigos, ao stress do cotidiano, às exigências e demandas dos outros, às próprias exigências, às aspirações e ambições frustradas, e que por isso tudo morrem de inveja daquelas amélias do passado - como diziam os Ramones: às vezes, "ignorance is bliss"...). Julia tornou-se um mito por ter introduzido nos lares americanos as técnicas da culinária francesa, em receitas clássicas e até certo ponto fáceis, mas extremanente sofisticadas e sedutoras. Foi uma espécie de Ofélia daquelas bandas, uma senhora que transmitia carinho, comforto, paz, sempre preocupada em explicar da melhor maneira o passo-a-passo dos preparos de uma forma que não desesperasse as espectadoras, que não as levasse ao fundo do poço por se acharem umas tontas sem cultura gastronômica e sem o mínimo traquejo para manejar utensílios básicos (como eu me sinto na maioria das vezes). Abaixo estão as duas moças, a "desafiante" e o "mito", Julie e Julia, e aqui (http://diversao.uol.com.br/ultnot/2007/12/11/ult4326u525.jhtm) está uma excelente resenha de Julie & Julia feita pelo site Uol.













Como adquiri o livro anteontem, ainda estou na página 51, mas já fui levada às lágrimas, já dei gargalhadas sozinha, já pensei e repensei tudo que fiz da vida até aqui (sim, livros de culinária, principalmente romances culinários, têm essa capacidade sobre mim...). Na medida em que a leitura for avançando, vou postando as partes que me chamaram atenção.
Além disso, e deixando de lado a sensação de ter tomado o bonde andando, ou, pior, de ter ficado pra trás depois que ele passou, vou tentar seguir os passos de Julie... Tenho inúmeros livros de receitas, faço até mesmo um caderno de receitas (daqueles com recortes e anotações que nossas avós faziam e deixavam pra nossas mães - que deveriam ter deixado pra nós, mas que queimaram todos junto com os sutiãs...), mas sempre me pego deixando tudo de lado e enfrentando as panelas sozinha, ou no máximo com minha memória. Tenho que confessar: não sou boa em seguir receitas... Leio, aprendo, anoto, tento memorizar, marco as páginas que me interessam com inúmeros papeizinhos (já fiz até mesmo um índice com todas as receitas, de todos os livros que tenho, que cativaram minha atenção, e até colei este índice na última página do meu caderno), mas na "hora h" vou sozinha pra cozinha. De tanto proceder assim, estou percebendo que começo a repetir a "mão", quer dizer, que estou me viciando em algumas receitas, em alguns temperos, em algumas maneiras de proceder. Então, inspirada em Julie, vou tentar começar minha própria empreitada, na medida em que o tempo, o bolso e a correria do dia-a-dia me permitirem: seguir o que está escrito nos livros, da maneira como eles indicam, com os ingredientes e técnicas determinados (nada de trocar filé de saint peter por merluza, parmesão de primeira pelos queijos de pacotinho vagabundos, creme de leite fresco pelo normal, echalota por cebola, salsa fresca por desidratada, nada de colocar um pouquinho mais de leite, ou mais um ovo - mas, sejamos realistas: já perceberam como os ovos hoje em dia estão aguados e sem substância? -, ou reduzir o tempo de cozimento, ou...). E, se tudo der certo, ou mesmo não dando (o que será mais provável!), vou registrar minhas aventuras pra quem se interessa possa!
Pra terminar, um lindo trecho de Julie & Julia, em que ela relata o mágico poder que a comida tem de nos fazer esquecer da vida (ou seria vivê-la plenamente, sem se deixar aborrecer pelas mesquinharias do cotidiano?) e nos transporta para algum lugar distante, caloroso e feliz:
Então eu fiz essa sopa, Potage Parmentier,
com a receita tirada de um livro de culinária publicado quarenta anos atrás, aquele que eu roubara de minha mãe alguns meses antes. E a sopa ficou boa - inexplicavelmente boa. Comemos no sofá, com as tigelas equilibradas nos joelhos, em um silêncio quebrado vez ou outra por risadinhas enquanto assistíamos a uma lourinha atrevida eliminar vampiros na televisão. Dali a pouco estávamos sorvendo os restos de nossa terceira e última porção (...). Algumas horas antes, após minha consulta com o ginecologista, enquanto olhava para as verduras e os legumes na mercearia coreana, eu me pegava pensando: "Estou com 29 anos, nunca vou ter filhos ou um emprego recente, meu marido vai me abandonar e eu vou morrer sozinha, numa casa caindo aos pedaços e afastada da cidade com mais de vinte gatos, e vai levar duas semanas para alguém sentir o cheiro". Contudo, para meu alívio, três tigelas de sopa mais tarde eu não estava pensando em nada.
Estava recostada no sofá, fazendo minha digestão, sossegada.
A sopa de Julia Child me deixara vulnerável.
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sábado, 5 de julho de 2008

As flores de plástico não morrem, mas não têm a mínima graça...


Acho que sou a única pessoa do mundo que adora flores mas não gosta de buquês, pelo menos não daqueles padronizados que encontramos nas floriculturas... Por ironia, os dois únicos que ganhei vão ficar pra sempre na minha memória, não tanto pela beleza, mas pelo significado. O primeiro recebi do meu pai, por ocasião da minha formatura (há uns bons dez anos), e era tão cafona que vinha com glitter pulverizado nas pétalas de rosa (outro detalhe: a rosa é uma flor que nunca chamou minha atenção, por incrível que pareça e por mais que tenha ganhado inúmeras homenagens, em música, poema, filme...). O segundo, recebi nesse último dia dos namorados do meu marido (às vezes o chamo de namorado, às vezes de marido, um dia escrevo sobre o porquê), que estava de cama se recuperando de uma cirurgia e pediu ao pai que comprasse flores e bombons (ah, os homens e seus clichês sobre "romantismo"...) para as garotas da casa (eu e a mãe dele, claro). Dessa vez, o buquê veio sem glitter, ainda bem, mas alguém pode me explicar o motivo das misturas de flores que os donos de floricultura promovem?! Há sentido em misturar miosótis, que são florzinhas delicadas, inocentes, leves, quase "virginais", com rosas vermelhas, que remetem à sedução, paixão, a tudo menos delizadeza e leveza?! Tudo bem que esteticamente tenha ficado bonito (o vermelho suculento das rosas com os pontinhos brancos dos miosótis), mas imagino que montar um arranjo de flores tenha um fundamento que não só a imagem, devendo passar por algum intuito bem pensado, como a necessidade de representarar algo com sentido, com um propósito, sei lá, vai ver que estou viajando... E os embrulhos?! Alguém também me explica aqueles plásticos transparentes com "bordados" na cor branca em forma de coração ou flores (que redundância) ou bolinhas?! E com laços cafonérrimos que mais parecem uma couve-flor de tão duros e pesados?! Eles passam laquê nos laços?! Ficam todos parecendo aqueles penteados de noiva feitos em salão de quinta, em que o cabelo fica esticado na cabeça e atrás cheio de rolinhos endurecidos e presos com um sem fim de grampos... De toda forma, depois de uns dias, desmontei o buquê em vários arranjos (rosas foram para um lado, miosótis pro outro) que duraram dias e alegraram a casa!
Esta aí uma coisa que eu queria muito saber (além de tricô, crochê, corte e costura, e decoração de bolos): montagem de arranjos florais, design de flores, qualquer que seja o nome disso. Há tantos e tão lindos! E eu queria muito saber melhor a arte da jardinagem... Não gosto muito de remexer na terra, e não tenho muita sensibilidade pra entender os desejos das plantinhas... Tenho em casa uma árvore da felicidade (que se não fossem as dicas da minha mãe não estaria sobrevivendo há 5 anos), uma espada de são jorge (graças a ela também, e graças ao meu namorado e suas crendices sem propósito: cismou que precisamos de algo que espante as más vibrações da igreja que se instalou ao lado de casa!; precisamos é da polícia e de alguém que faça cumprir a lei do silêncio, isso sim..), dois vasinhos de brotos de cebolinha, um de manjericão (frutos da minha recente empreitada em ser uma jardineira fiel e feliz e depois de muitas mancadas durante o processo de concepção e nascimento das mudinhas), e mais uma mini estufa de sementes de pimenta, salsa e cominho (meras sementes, pois há duas semanas espero os brotinhos nascerem e nada...).
Me lembro da minha casa na infância, que até laranjeira e parreira tinha, e uma árvore linda e deliciosa da araçá, uma frutinha que lembra uma goiaba miudinha e que forrou meu estômago durante boa parte da minha mocidade e das minhas brincadeiras no quintal! Havia também a horta, com couve, alface, temperos. E havia o galinheiro (sem galinhas...), que foi por anos minha "casa", onde eu fazia "cozinhadinho", isto é, montava um fogãozinho de tijolos e carvão pra fazer os "preparos" de arroz e plantinhas, e para a qual eu ia depois de um "dia de trabalho", ou seja, depois de fingir por horas ser secretária e preencher papéis que meu pai trazia do banco pra eu brincar. Vejam bem, amélia que é amélia brinca de dona de casa desde a infância, mas uma dona de casa emancipada, que também trabalha e cuida de si (sim, pois outra das minhas diversões era colocar roupas e maquiagens da mãe e da avó, lambrecar o cabelo com misturas de cremes, esfoliar o corpo com açúcar - isso eu faço até hoje! - , ficar horas na frente do espelho ensaiando caras e bocas e passos de dança).
Este post deu esta volta toda apenas pra falar do que aprendi hoje de novo, graças ao blog Rainhas do Lar: o nome da plantinha da foto acima, Kalanchoe (flor da fortuna), que é uma das minhas paixões, pois são baratinhas (por volta de 1 real), duram muito (a última que comprei está no banheiro desde o mês passado), por serem da família das suculentas são fáceis de cuidar (sobrevivem sem rega por até 3, 4 dias), são encontradas nas mais variadas cores, e são lindas, charmosas e delicadas! Toda semana, ou no mínimo sempre que vou ao mercado, trago pra casa flores pra colorir e alegrar o dia-a-dia, e as florzinhas da fortuna têm sido minhas companheiras mais freqüentes! Uma homenagem a elas então: