segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sobre Internacionalismo

Reflexões interessantes do escritor americano Mark Twain, que viveu entre os séculos XIX e XX (retiradas de um texto que li numa revista destas de circulação semanal bem antiga, que não terá seu nome referido aqui, por razões óbvias): “Cidadania? Não temos cidadania! Em lugar dela, ensinamos o patriotismo, de que Samuel Johnson dizia, já há 140 ou 150 anos atrás, ser o último refúgio do canalha – e eu sei que ele estava certo. Lembro-me de quando era menino ouvi repetida muitas e muitas vezes a frase ‘Minha pátria, certa ou errada, minha pátria’. Uma idéia absolutamente absurda”.

Perspicaz este escritor. Dele, só sabia que havia feito As aventuras de Tom Sayer, que nunca li. Primeiro, acho que, mais do que uma leitura anti-imperialista do trecho (a postura americana era o alvo da crítica de Twain), devemos ver nele também uma revolta contra todo e qualquer nacionalismo (seja o país em questão os EUA, seja Inglaterra, China, França, Brasil, ou qualquer outro pedaço de terra com uma cerca imaginária e que se intitule nação). O surgimento do “espírito” nacionalista remonta ao final do feudalismo, quando, frente ao surgimento e desenvolvimento do comércio entre os feudos, e devido à insegurança nas estradas que ligavam um feudo ao outro, às abusivas taxas e pedágios e à variedade de moedas locais (o que obviamente dificultava a troca de mercadorias), a nascente burguesia rompe com a frágil estrutura social até então dominante, baseada na autoridade imposta pela Igreja Católica e pelos senhores feudais (ai meu segundo grau!), e junta suas forças com a monarquia em ascensão, pleiteando uma moeda única, uma lei única, um governo único, etc., em lugar da “fragmentação” da sociedade feudal. A unificação, sob a alcunha de “nação”, era o que se desejava à época. Como se vê, então, esta baboseira toda de render tributos (e dar a própria vida, às vezes) à pátria, a despeito do papel ocupado pela mesma (se certa ou não, como diz o trecho mencionado por Twain), e mesmo quando esta pátria, em nome do “desenvolvimento”, massacra, explora e humilha os seus semelhantes – quer dizer, os homens não só de outros pontos do globo mas também aqueles que vivem no mesmo espaço físico, dentro da mesma “cerca” –, possui fundamentos não só morais, políticos, ideais, etc., mas, principalmente, econômicos, concretos. Hoje, vemos este “sentimento” imperar absoluto (o trocadilho não é à toa) não só nos países desenvolvidos (o que dizer da França, berço das pretensas “fraternidade”, “justiça” e “igualdade”... bem, isto tudo para poucos, ou seja, para a burguesia, que queria mandar às favas o rei do qual tinha se servido uma vez) mas mesmo nos rincões mais escondidos do planeta (como, sei lá, Burundi, Líbia, Sudão, etc.). “Nós” contra “eles”, ou “nós” com “eles”, dependendo dos interesses que guiam as relações internacionais, interesses estes que, é até estúpido e banal dizer, são sobretudo econômicos: nos juntamos, nos aliamos, ou nos separamos e declaramos guerra aos outros em nome do desenvolvimento do próprio capitalismo, e não em nome do desenvolvimento da humanidade... A mola propulsora aqui, parafraseando Marx (nunca é demais), é a auto-reprodução do capital, e não o desenvolvimento livre da humanidade; o objetivo por trás disso tudo é suprir as necessidades do capital, e não as necessidades humanas. Como também disse Twain, “Fomos até lá [ele se referia à expansão territorial americana, invadindo Cuba, Filipinas, Porto Rico, etc., mas aqui podemos pensar, de novo, não só os EUA conquistando tudo, mas qualquer país querendo se impor frente ao outro] para conquistar, não para salvar”.

Internacionalismo, então, este é o caminho e o objetivo. Supressão de todas as barreiras que nos separam, sejam elas geográficas, políticas, econômicas, morais. Um só povo, mas com toda a pluralidade cultural possível e saudável (e caberia aqui uma longa digressão sobre relativismo e universalismo, que não vem ao caso agora), com toda a real riqueza que o Homem é capaz de produzir, “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”, como dizia Marx, não importa a cor, raça, gênero ou orientação sexual (obviamente não vou colocar aqui “credo”, pois comunismo e internacionalismo sem supressão da religião, sinto muito Leonardo Boff e a pseudo-esquerda, é um contra-senso).

Pra terminar, e aliviar o peso do tema, uma gracinha: o mundo é mesmo uma bunda... E, reparem bem a foto: o c* do mundo é a África (renegada, isolada, usada)...

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