quarta-feira, 25 de junho de 2008

Tributo a Lou Andreas-Salomé


"Ouse, ouse tudo!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo!
Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!"
(Lou Andreas-Salome)

Sem nenhum motivo especial (se bem que somente a vida dela já é motivo suficiente para um tributo), quero fazer uma homenagem a uma das mulheres mais brilhantes que a humanidade já conheceu: a pensadora e escritora Lou Andreas-Salomé, nascida em 1861 e falecida em 1937, dotada de atributos físicos e intelectuais que a tornaram membro de um círculo de pensadores seleto do século passado (e amante de alguns deles também), como o pai da psicanálise Sigmund Freud, o filósofo Nietzsche, o poeta Rainer Maria Rilke, entre outros. Nietzsche dizia ser ela a mulher mais brilhante que ele havia conhecido, e por isso mesmo deve ter se disposto a aceitar o triângulo amoroso estabelecido entre ele, Lou e o filósofo Paul Rée (com quem ela vivia antes, durante e depois de conhecer e se relacionar com Nietzsche, e que parece ter se suicidado em virtude da ruptura de seu relacionamento amoroso com Lou).

Lou tinha idéias curiosas sobre amor e casamento, questionava (e mesmo repudiava) a ligação entre afeto e sexo, e se recusava terminantemente a aceitar o modelo de família tradicional, chegando mesmo a exigir de Andreas, seu segundo marido, a promessa de que nunca teriam filhos. Foi cortejada por inúmeros homens, tendo se unido a alguns deles por períodos de sua vida, mas isso nem de longe significava que ela aceitava as convenções e regras estabelecidas pelo seu círculo social, a alta burguesia européia, tendo se mantido até o fim da vida um espírito livre e independente, uma mulher exuberante e desafiadora. Uma de suas afirmações mais contundentes sobre o amor está em sua obra Reflexões sobre o problema do amor: "Só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o passar do tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser entendido como uma força vital. Por isso nada é mais inepto em amor que se adaptar um ao outro, se polir um contra o outro, e todo esse sistema de intermináveis concessões mútuas, feitas unicamente para os seres constrangidos, por razões puramente práticas e impessoais, a suportar sua vida em comum, atenuando o mais racionalmente possível este constrangimento. E quanto mais dois seres chegaram ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, se transformar um no parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em seu solo particular, a fim de se tornar um mundo para o outro."

Apesar de ter se cercado sempre da companhia de homens (que faziam as vezes de seus amantes, mentores intelectuais, parceiros nos debates acadêmicos, etc.), Lou mateve uma relação próxima com a também escritora Anais Nïn. Em prefácio a uma edição da mais importante obra de Lou, A humanidade da mulher, ao tentar elaborar uma biografia da amiga (tarefa árdua em virtude de sua vida agitada e misteriosa), afirmou: "O conflito entre o desejo da mulher de se fundir com o amado e ao mesmo tempo manter sua identidade própria é a luta da mulher moderna. Lou viveu todas as fases e evoluções do amor, da entrega à recusa, da expansão à contração. Casou-se e levou vida de solteira, amou homens tanto mais velhos quanto mais novos." A própria Lou gostava de dizer: “Não posso ser fiel aos outro, apenas a mim mesma".

Ao fim da vida, em conversa com o escritor H. F. Peters, Lou proferiu a síntese de sua caminhada: “A vida humana – na verdade, toda a vida – é poesia. Nós a vivemos inconscientemente, dia a dia, fragmento a fragmento, mas, na sua totalidade inviolável, ela nos vive”.

Alguns depoimentos sobre Lou:
“A mulher começa a despertar em Lou” (Arthur Schnitzler, médico e dramaturgo austríaco)
“Durante a vida de Salomé, ela presenciou o fim da tradição romântica e se tornou parte da evolução do pensamento moderno, que frutificou no século XX. Salomé foi a primeira ‘mulher moderna’. A natureza de suas conversa com Nietzsche e Rilke antecipou a posição filosófica do existencialismo. E, por seu trabalho com Freud, ela figurou com destaque na evolução inicial e na prática da teoria psicanalítica. A princípio, eu a vi como heroína – como merecedora do culto do herói, no que esse culto tem de mais positivo. As mulheres sofrem hoje, tremendamente, da falta de identificação com uma figura feminina heróica”. (Barbara Kraft, escritora)
"Lou Andreas-Salomé simboliza a luta para transcender convenções e tradições nos modos de pensar e de viver. Como é possível a uma mulher inteligente, criativa, original, relacionar-se com homens de gênio sem ser dominada por eles?" (Anais Nïn)
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Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito dessa mulher!!
Ainda não havia ouvido falar, fiquei interessada q vou ate pesquisar mais sobre ela...
obrigada pelo conhecimento