Execrada pelas feministas como modelo de mulher submissa, passiva, escravizada pelo seu homem, Amélia não teve ainda uma verdadeira defesa... Alguém em sã consciência, sabendo ser Mário Lago o autor da letra, e sabendo ser ele quem é, acredita que ele teria a audácia e a insensibilidade de menosprezar, diminuir, ridicularizar a mulher?! Imagino que os/as detratores da música sequer se deram ao trabalho de lê-la por inteiro... A letra na verdade começa como uma crítica às mulheres que exigem atenção, demandam, controlam, se resumem a bonecas cheias de necessidades supérfluas e consumistas. Diante disso, os autores, saudosistas, relembram a tal Amélia, que era mulher de verdade, companheira e pronta para enfrentar as adversidades, por pior que fossem. Ao final, dizem que Amélia não tinha vaidade, mas em um mundo em que "vaidade" não significa exaltação da própria beleza e formosura, mas adequação obcecada a um padrão de "beleza", eu mesma não quero ser "vaidosa"...
Rendendo uma homenagem às Amélias da vida, que sabem ser mulher, sabem quem são e não necessitam das validações sociais estúpidas de hoje em dia (isto é, a mídia, ou mesmo o "senso comum", que impõem a nós um papel que supostamente deveríamos representar, daquilo que deveríamos ser), aí está a letra, completa. Leiam, sem preconceito, e façam as próprias leituras!
A propósito, a legenda da foto de abertura diz: "Foda-se essa merda de dona-de-casa dos anos 50"; sim, escolhi de caso pensado: também tenho minha "veia" feminista e quero que todas as idéias castradoras e machistas sobre o que é ser mulher, principalmente essas idéias que remontam aos anos 50 e 60, se explodam.
Ai, que saudades da Amélia...
(Ataulfo Alves e Mário Lago)
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Mas quando me via contrariado
Dizia: meu filho, o que se há
de fazer ?
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
.
Um comentário:
vim agradecer a visita e acabei ganhando um presente. Vc tem um texto delicioso, inteligente e ousado. Adorei. Neste caso, obrigada duas vezes! Beijossssssssss
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