domingo, 15 de junho de 2008

Ser Amélia


Execrada pelas feministas como modelo de mulher submissa, passiva, escravizada pelo seu homem, Amélia não teve ainda uma verdadeira defesa... Alguém em sã consciência, sabendo ser Mário Lago o autor da letra, e sabendo ser ele quem é, acredita que ele teria a audácia e a insensibilidade de menosprezar, diminuir, ridicularizar a mulher?! Imagino que os/as detratores da música sequer se deram ao trabalho de lê-la por inteiro... A letra na verdade começa como uma crítica às mulheres que exigem atenção, demandam, controlam, se resumem a bonecas cheias de necessidades supérfluas e consumistas. Diante disso, os autores, saudosistas, relembram a tal Amélia, que era mulher de verdade, companheira e pronta para enfrentar as adversidades, por pior que fossem. Ao final, dizem que Amélia não tinha vaidade, mas em um mundo em que "vaidade" não significa exaltação da própria beleza e formosura, mas adequação obcecada a um padrão de "beleza", eu mesma não quero ser "vaidosa"...
Rendendo uma homenagem às Amélias da vida, que sabem ser mulher, sabem quem são e não necessitam das validações sociais estúpidas de hoje em dia (isto é, a mídia, ou mesmo o "senso comum", que impõem a nós um papel que supostamente deveríamos representar, daquilo que deveríamos ser), aí está a letra, completa. Leiam, sem preconceito, e façam as próprias leituras!
A propósito, a legenda da foto de abertura diz: "Foda-se essa merda de dona-de-casa dos anos 50"; sim, escolhi de caso pensado: também tenho minha "veia" feminista e quero que todas as idéias castradoras e machistas sobre o que é ser mulher, principalmente essas idéias que remontam aos anos 50 e 60, se explodam.

Ai, que saudades da Amélia...
(Ataulfo Alves e Mário Lago)

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer

Ai, meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Mas quando me via contrariado
Dizia: meu filho, o que se há
de fazer ?

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
.

Um comentário:

Anônimo disse...

vim agradecer a visita e acabei ganhando um presente. Vc tem um texto delicioso, inteligente e ousado. Adorei. Neste caso, obrigada duas vezes! Beijossssssssss